O Feminismo começa em ti própria
Neste dia da mulher falo-te de um feminismo diferente.
Mulheres e corpo. Corpo e mulheres. Esta é provavelmente uma das maiores batalhas de sempre e não há uma única mulher que em algum tempo da sua vida, não se tenha olhado ao espelho e se tenha achado a “coisa” mais horrível à face da terra. Totalmente cheia de defeitos. E constantemente a especular o porquê de não ter os abdominais da Gabriela Pugliesi, a cara da Sara Sampaio e as pernas da Iza Goulart.
É, nós somos assim. Seres insatisfeitos. Seres que conseguem ver mais defeitos em nós próprias em 1 hora do que 10 pessoas num dia inteiro e acima de tudo temos a capacidade de nos comparar-mos constantemente à vizinha do lado. como se a vizinha fosse a última coca-cola do deserto sem qualquer tipo de defeitos. O problema é que nós somos também, as primeiras a apontar o dedo quando alguém como por exemplo a brutalíssima Lady Gaga faz uma actuação maravilhosa e está ali com uma barriguinha minúscula que provavelmente até é dos calções estarem justos e cai-lhe o carmo e a trindade porque está fora de forma.
Fora de forma really. Com uma actuação brilhante da super bowl? Queria ver-vos durante 13 minutos a cantar e a dançar naquele nível? Mas vamos continuar e já voltamos a esta parte da Lady Gaga….
Eu entendo esta coisa da frustração corporal
Porque grande parte da minha vida fui assim, aliás a bem dizer acho que só depois de ter ido novamente ao fundo o ano passado com o regresso das compulsões e ter decidido dar um basta em toda esta obsessão com o corpo é que efectivamente passei a aceitar-me e a olhar para mim com olhos de quem gosta do que vê. Se acho que sou uma Gisele Bundechen? Óbvio que não, mas olho para mim e consigo ver que este é um corpo forte e nutrido, que treina bem, que é capaz de levantar 100 kilos do chão da mesma forma que é capaz de fazer double unders (saltos duplos de corda) com uma perna às costas e que acorda todos os dias às 06 da manhã para se tornar ainda melhor, então tenho de ter orgulho no que consigo fazer com este corpo.
Mas como vos digo eu entendo isto de nos odiarmos profundamente e de ficarmos a babar no Instagram, miúdas perfeitas, com corpos lindos, com barrigas lisas e prometermos a nós próprias que a partir de segunda vamos comer melhor e vamos treinar como verdadeiras atletas #semfalhas, #nopainnogain e todas essas hastags que servem para mostrar o quanto somos dedicadas.
Não há mal em termos ambições
Não há mal em querermos melhorar o nosso corpo e trabalharmos para isso. Mas hoje em dia a linha entre o querer melhorar e a cegueira visual e de espírito é muito ténue. E as pessoas vivem completamente obcecadas por utopias. Por corpos que ou por serem completamente diferentes da sua estrutura física ou porque simplesmente há pessoas que são pagas para treinar e têm todo o tempo do mundo / cozinheiros / personal trainers / massagens/ e todo o livre acesso a coisas que nós comuns mortais não temos – porque há toda uma vida para gerir – que provocam esta insatisfação em quem os segue religiosamente.
Eu adoro comer bem e treinar para me sentir mais forte
Mas cada vez mais percebo que esta onda do fitness anda a ficar demasiado estranha e as pessoas falam de mais, opinam de mais e sobretudo equiparam-se de mais, esquecendo-se que todos os corpos são diferentes e que o que para mim pode ser mais rápido a alcançar para ti por inúmeras razões não é, e isso não significa que foste mais fraca.
Para além disso há claro uma coisa muito importante e que se chama postura, luz, filtros. E que há truques para parecer que temos um rabo maior. Ou uns abdominais muito mais secos do que realmente são. A própria Gabriela que tem um corpo que a maioria das pessoas entende como Santo Graal já admitiu que edita as fotos para ficarem melhores. Acham mesmo que a comum dos mortais não faz o mesmo? Oram vejam lá as primeiras fotos deste post.
A nível de edição só lhes coloquei um filtro
Mas conseguem perceber a diferença de postura? Conseguem ver que se eu me colocar de lado com uma perna mais à frente do que outra, empinar o rabo e respirar fundo durante 5 segundos rezando para que o pulmão não expluda parece que sou muito mais seca e rabuda do que realmente sou?
E não, eu não estou a dizer que tenho barriga porque não tenho. Mas obviamente que se estiver numa posição mais relaxada o aspecto é totalmente diferente. Agora façam um pequeno exercício, vão ao Instagram e vejam lá se a maioria das raparigas que seguem não tira fotos exactamente nesta primeira posição? Pois é. Vão perceber que são muitas. São truques. porque ninguém é seco e definido 24h por dia.
A verdade é que dei por mim a pensar muito neste post. E percebi que efectivamente atingi uma maturidade e uma serenidade comigo própria que me permitiram partilhar isto sem vergonhas. E se fosse há um ano atrás eu nunca faria isto. O que me mostra que efectivamente eu cresci e aceitei-me exactamente como sou porque caramba….
Eu não tenho de ter vergonha de nada
Eu já tive 80 kilos e agora tenho 54. Eu já tive um verdadeiro pneu Michellin e agora tenho uma barriga bonita. Se é lisa, com abdominais a saltarem como se fossem um tanque da roupa? Não claro que não. Mas é a minha barriga que durante muitos anos viveu escondida por um monte de gordura e que agora pode finalmente respirar.
Sim quando eu me sento eu tenho dobras. Tenho porque não sou um boneco de cera e porque são marcas daquilo que eu já fui antes. Tal como as estrias que tenho nas pernas e alguma celulite. Mas isso não faz de mim menos mulher. Ou menos capaz do que qualquer uma das fitness goals que andam por ai. Uma das coisas que sempre odiei em mim foi a minha anca porque a tenho larga. É de família, a mãe é assim, a avó era assim, somos mulheres de anca larga e eu sempre chorei a querer uma anca minúscula mas a menos que vá à faca dificilmente isso irá acontecer, portanto o que faço eu?
Mantenho uma alimentação equilibrada. Aceito que posso diminuir uns quantos centímetros mas nunca chegarei a ter a anca da Pugliesi e treino para me tornar mais forte ou continuo a odiar este corpo saudável, que me permite ter uma vida boa?
Muito se fala do feminismo
Deste dar mais força às mulheres e eu sou totalmente a favor disto. Mas acredito que para sermos verdadeiras feministas, para defendermos os valores que precisamos de defender precisamos de nos defender a nós primeiro. Precisamos de nos aceitar. De nos amar mais e de parar de nos julgar tanto. Porque a verdade é que enquanto não tivermos a força para aceitar que nós somos mais do que aquela dobrinha quando nos sentamos, vamos continuar exactamente no ponto em que uma mulher extraordinária dá um espectáculo incrível e somos nós mulheres, as primeiras a apontar o dedo a uma pseudo barriga fora de forma.
E o mundo minhas amigas precisa de mais feministas cheias de amor próprio.
Feliz dia da Mulher
Miss L
Olaaa!
Que post lindo!
Verdade, somos escravas do corpo…
Beijokitaz
lollytasteblogvania
Miss Lobrigada 🙂 beijinhos
A Pa-trícia
É um grande passo aceitarmos o nosso corpo como ele é e conseguirmos ser felizes. Muitas mulheres só vêm o corpo perfeito à frente enquanto que o mais importante é ser saudável e ter um equilibro. O corpo não tem de ser perfeito, apenas temos de gostar dele 🙂
Beijinhos*
A Pa-trícia
lollytasteblogvania
A Pa-tríciaé mesmo isso patricia 🙂
Dianinha Gomes
Vânia se te visse agora dava-te um abraço gigantesco por teres escrito isto e gostava que muita gente pudesse ler e interiorizar verdadeiramente as tuas palavras. Tu és claramente uma Mulher muito poderosa e inspiradora e cada dia que passa mais prazer dá ler tudo o que partilhas. E mesmo que olhe para ti e pense "bolas esta miúda tem um corpo fenomenal" acho que é uma chamada de atenção genial para o que se partilha pela internet. beijinhos
lollytasteblogvania
Dianinha Gomesoh diana obrigada por estas palavras, fiquei de coração cheio 🙂
Bárbara Lopes
Adoro a coragem e frontalidade que tens para mostrar essa comparação de fotos. Tens um corpo incrível e, realmente, só tens de sentir orgulho no que construíste até aqui. Eu gostava de perder peso, mas não me comparo a ninguém. Gostava para me sentir melhor comigo mesma, para gostar mais do meu corpo – sim, do meu corpo e não de mim – porque de mim eu já gosto muito. Gostava de perder peso não para ficar igual a ninguém mas para me sentir mais confiante, para não me sentir constrangida na praia e não ter vontade de abdicar desses pequenos momentos de prazer.
Acho que temos de gostar de nós para nos possibilitarmos a ter uma mudança que nos faz gostar ainda mais. E, no meio de tudo, o mais importante é que, apesar de termos uma gordura aqui, de vestirmos um quarenta ou dos nossos braços serem flácidos, temos saúde que nos permite mudar isso tudo – ao contrário de muitas outras pessoas.
Adorei o teu testemunho.
Parabéns!
http://anetadaluisa.blogs.sapo.pt/
lollytasteblogvania
Bárbara Lopessabes vivi praticamente toda a minha vida em dieta e com desejos loucos do corpo xpto, mas foi exactamente a partir do momento em que decidi que tinha de gostar primeiro de mim pelo que já tinha alcançado que surpreendentemente o meu corpo acabou por me dar excelentes surpresas.
acho que no fundo a partir do momento em que deixei de colocar tanta pressão em cima de mim o meu corpo libertou-se e hoje amo efectivamente aquilo que consegui 🙂
beijinhos e obrigada
Experiências e Constatações
A sociedade em geral criou uma obsessão por dietas, obsessão por magreza, obsessão por não ter um grama de gordura.
Isso nem faz sentido.
Ser saudável sim. Ser forte também. Extremos e obsessões não. Há que olhar até para a constituição de cada um, para o que será natural, entre outros factores. Há material sobre isto.
Pessoalmente: não quero saber dos padrões que a sociedade achou que devia impor. Gosto do que vejo no espelho e isso é o que importa. Com dobras sim.
O teu texto é muito relevante nos dias que correm.
E se a Lady Gaga está fora de forma… eu nem comento. Como é que é possível alguém ter dito tal disparate! Deve ser melhor ver as costelas todas e ossos quase a furarem a pele como nas passereles…
lollytasteblogvania
Experiências e Constataçõeso que mais me incomoda é que são as mulheres que tanto querem igualdades as primeiras a apontar o dedo quando alguma coisa na visão delas não está correcta e isto num mundo que grita por Feminismo acaba por não ser coerente. beijinhos
The Brunette\'s Tofu
És linda! ❤️❤️
lollytasteblogvania
The Brunette\’s Tofuobrigada babe 🙂
Mel
Este post é muito pertinente. É cada vez mais pertinente. E embora sempre soubesse isto tudo que mencionas, precisava de o ter lido numa outra fase onde parecia que estava um bocado cega – cega o suficiente para nem analisar e perceber aquilo que eu no fundo sempre soube. Mas às vezes precisamos de um gentle reminder, embora em certas alturas da vida nem esses servem – às vezes temos de bater no fundo para entender e começar a mudar. Gostei bastante deste post em particular porque realmente tenho vindo a pensar imenso nestas temáticas, principalmente nas críticas que nós, enquanto mulheres, damos a nossas próprias mas também às outras mulheres à nossa volta. Nada vai mudar se nós também não pararmos de criticar constantemente as outras mulheres, de as analisarmos e procurar o defeito. Passei demasiado tempo a pensar no aspecto físico, impedi me de ser feliz quando poderia ter sido, poderia ter aproveitado tantos verões mas estava sempre à espera de estar melhor, de me sentir melhor e ao mesmo tempo odiava o facto de saber que eu nunca quis ser essa pessoa – a pessoa que valoriza demasiado o aspecto física, a a pessoa que não faz o que quer por vergonha. Quando damos por nós já passaram anos. Obrigada por abordares estes temas tão importantes. Hoje em dia é fácil cair neste self hate, na comparação, na obcessão e esquecem-se de falar na aceitação, em ser saudável para sermos fortes e capazes.
vânia duarte
MelOlá Mel 🙂 Antes de mais obrigada pelo teu comentário. Fico feliz que gostes do que escrevo e é exactamente como dizes, nós criticamo-nos muito. Somos na realidade as nossas piores inimigas e isso acaba por tornar impossível uma relação saudável connosco próprias. Estamos sempre, sempre insatisfeitas, à espera de algo melhor e acabamos por não aproveitar o que temos no momento e é importante aprender a aceitar que a vida perfeita somos nós que a fazemos 🙂 beijinhos