Sobre esta coisa do equilíbrio
Há uma coisa que eu gosto sempre de explicar a quem me pede conselhos sobre conseguir chegar a uma vida equilibrada e que é o facto de eu não ser 100% resolvida comigo mesma. E gosto de explicar isto, porque tenho medo que quem chegue até mim e descubra a minha história, ache que hoje em dia eu estou totalmente de bem comigo e que esta paz que eu tanto falo, seja sinónimo de vida 100% feliz e de escolhas 100% acertadas.
Seria mais fácil e talvez mais poético dizer-vos que cheguei a um ponto em que me adoro todos os dias. Seria mais fácil e mais bonito dizer-vos que como saudavelmente todos os dias, e que acordo todos os dias com uma vontade incrível de treinar porque sei a energia maravilhosa com que fico depois de terminar. Seria mais fácil dizer que medito todos os dias ao acordar e ao deitar porque me dá paz e que me tornei uma pessoa muito zen e ponderada depois de abraçar a prática de yoga.
Tudo isto seria tudo mais fácil e incrívelmente mais bonito, mas seria também utópico. E eu sei que é mais fácil acreditar quando alguém nos vende a ideia que uma vida equilibrada está ali ao virar da esquina e que basta acreditar com muita força, mas eu, que lutei durante 15 anos para largar esta doença, sei que este caminho não é bonito, não é linear, não é limpo nem cor de rosa.
E depois de cá chegar aprendi outra coisa muito importante e que foi: estar aqui dá trabalho, mais do que algum dia imaginei.
Desapegar-me de velhos hábitos, interiorizar que venci muitas batalhas mas que preciso de continuar a trabalhar para não andar para trás e acima de tudo que mesmo estando aqui, onde tudo é mais sereno há dias em que as coisas também me escapam, há alturas em que olho para a comida de forma compulsiva e há épocas em que não me apetece treinar ou praticar yoga.
E tu que me lês podes achar que tudo isto que te conto nada tem a ver com aquela paz que eu tanto falo em muitos dos meus textos, aquela paz que eu digo tantas vezes que atingi, mas acredita que tem mais do que pensas. Porque esta paz permite-me ter dias em que olho para mim e não adoro de todo o que vejo, mas saber que é apenas uma fase e que este corpo que tenho hoje é provavelmente o mais saudável que alguma vez tive. Esta paz que te falo permite-me entender que independentemente de às vezes poder comer de forma mais compulsiva não preciso de ir para o ginásio matar-me ou enfiar a cabeça na sanita. Esta paz que te falo traz-me a serenidade para entender que estar curada não significa que esqueci a doença que tive mas sim que aprendi a conhecer-me melhor com ela. Esta paz que te falo permite-me aceitar que viver em equilíbrio não significa estar sempre bem.
Porque todos nós temos um lado sombra, todos nós temos os nossos demónios e os nossos medos.
Eu tenho muitos e alguns deles são relacionados comigo e com a relação comigo própria, e isto não faz de mim menos capaz, nem significa que andei para trás, isto torna-me simplesmente humana e acima de tudo igual a ti. Igual a ti que ainda estás no processo de cura, ou a ti que ainda não conseguiste forças para largar a tua doença, ou a ti que não treinas todos os dias, ou a ti que não és zen nem gostas de yoga, ou a ti que já encontraste o teu equilibrio ou mesmo a ti que ainda não acreditas que é possível viver em paz mesmo que neste lugar onde me encontro também existam dias menos felizes.
No fundo aquilo que mais quero que entendas é que quando te digo que é possível ter uma vida equilibrada é mesmo verdade, mas o trabalho não termina quando lá chegas. O trabalho muda é verdade, mas vai continuar a existir para sempre e é o teu compromisso que te irá manter no caminho certo.
Posto isto, estou oficialmente de volta à escrita, ao coração aberto e ao meu equilíbrio 🙂