A minha voz fez-se ouvir na Bless Woman Conference
Há muita coisa engraçada nisto de ter um blogue, onde partilho muito de mim, dos meus medos, da minha relação com a comida, com o peso e com a ansiedade. E uma dessas coisas são as pessoas. As pessoas que foram aparecendo na minha vida ao longo deste ano, e que de uma forma ou de outra, me foram mostrando que aquilo que tenho para dizer é importante. Apesar de eu confiar muito pouco em mim.
A verdade é só uma: eu adoro escrever.
Escrevo de coração aberto sobre toda a relação que tive e tenho com o meu corpo. Sobre a bulimia e mil dietas. E sobre a depressão e ataques de pânico que tive de aprender a controlar. Escrevo sem custo porque me sai mesmo do interior. E sempre que alguém me diz: “Obrigada por o teres feito” eu sinto que efectivamente estou a chegar onde quero – às pessoas.
Agora quando o assunto é falar, especialmente sobre mim o caso muda de figura. E eu fico automaticamente muito insegura e nervosa. A sentir que o chão se vai abrir bem debaixo dos meus pés e eu, vou cair num buraco fundo, onde por mais que tente falar, ninguém me ouve. Sim eu sei que parece uma previsão meio dantesca, mas é exactamente assim que me sinto quando o assunto é: falar de mim.
Há muitos meses atrás, quando comecei a trabalhar com a Susana na mudança visual do blogue, ela fez-me escrever o guião da minha palestra. Não a da Bless Woman Conference, mas uma palestra ou workshop que ela acreditava – e ainda acredita – que eu um dia irei criar. E eu escrevi. Um rascunho daquilo que achava que poderia ser importante partilhar com mulheres que tal como eu viveram e ainda vivem presas a uma ditadura da imagem.
Apesar de o ter escrito, sempre disse à Susana que não me sentia confortável a falar para 1, para 10 ou para 100 pessoas.
O estar ali, com olhos postos em mim sempre me causou muita ansiedade. E mesmo hoje em dia, que partilho abertamente a minha história por aqui, isso acontece. Acredito que tem a ver com o meu passado. O facto de nunca me ter sentido confortável na minha pele. De sempre me ter achado, mais feia, mais gorda, mais imperfeita do que todas as mulheres à minha volta, fez com que sempre gostasse de estar na sombra. Porque era mais fácil para mim não ser vista verdadeiramente.
E quando vos digo verdadeiramente, falo do meu verdadeiro eu.
O eu sensível. O eu que chora. O eu que é frágil. Porque se perguntarem aos meus amigos de infância e adolescência, vão dizer-vos que eu sempre fui extrovertida, alegre, sempre ri e falei imenso. E participei inclusive em peças de Teatro, onde fui a protagonista. A questão é que em nenhum destes momentos eu expunha as minhas fragilidades. Em nenhum destes momentos eu tinha de falar sobre mim. Portanto criar esta barreira foi uma forma de esconder as minhas verdadeiras emoções.
Uma grande característica minha é que eu entusiasmo-me muito facilmente com tudo. Portanto quando a Susana me convidou para a Bless Woman Conference, eu aceitei na hora. Sem pensar grande coisa no assunto. Mas quando comecei a perceber o painel de oradoras que a conferência tinha, senti-me primeiramente estúpida e logo de seguida com um medo terrível. E na minha cabeça eu só pensava, porque raio tinha aceite. Porque é que a Susana se tinha lembrado de mim com tantas mulheres mil vezes mais interessantes do que eu. O que é que a minha partilha podia trazer de bom aos outros?
Portanto quando vi aquele painel senti-me pequenina.
Muito pequenina ao lado de tantas mulheres absolutamente incríveis e que estão a criar coisas bonitas neste mundo. Senti medo. Senti todas as minhas fragilidades a virem ao de cima e nesse exacto momento percebi uma coisa: a velha Vânia que sempre escondeu o seu verdadeiro eu estava a vir ao de cima.
Fui de férias, desliguei de tudo, limpei a alma e decidi que iria usar Bless Woman Conference para enfrentar os meus medos, iria acima de tudo deixar de uma vez por todas de me considerar inferior, pouco confiante ou menos capaz do que outras pessoas. Porque a verdade é que não há mal em nos sentirmos nervosas ou ansiosas com algo. Não há mal em termos medo de falhar, faz parte de sermos humanas certo? O problema aqui é quando deixamos que estes medos e estes sentimentos de inferioridade nos impedem de viver por completo. E eu percebi que se a Susana achava que eu tinha algo suficientemente importante para estar como oradora na Bless Woman Conference, então por mais medo de falhar que eu tivesse eu ia mostrar-me por inteiro.
E assim foi. Cheguei a Lisboa às 05.45 da manhã.
Fui a casa, dormi 3 horas, tomei banho e fui para a conferência. Sim eu sabia que só ia falar à tarde, mas eu queria assistir às outras palestras. Queria beber toda a informação que pudesse. Queria ouvir todas as histórias bonitas e continuar a alimentar este meu crescimento interior. E foi incrível. Chorei muito com a minha parceira Ligia Silva, quando tivemos de contar a nossa história através de gestos. Vibrei com o samba e o ioga. E caramba se no círculo de mulheres não dei o maior grito que poderia ter dado. Um grito de libertação. Um grito de vitória. Um grito de mais uma etapa superada. A etapa de ter dado um grande pontapé à falta de confiança em mim própria.
Porque uma das coisas que quero que percebam, é que sim, eu já superei muitas batalhas na minha vida, mas não deixo de ter as minhas fragilidades. Não deixo de ter dias menos bons em que coloco tudo em causa. E acima de tudo, tenho total noção, que ainda tenho muitas coisas a trabalhar interiormente. A questão aqui é que hoje em dia, eu aceito isto e procuro trabalhar diariamente para melhorar, em vez de me afundar em desculpas, em tristezas ou em comida.
E foi depois de toda esta troca de experiências que chegou a minha vez de falar.
E não vos consigo explicar o quanto eu estava a tremer por dentro. O quanto o coração parecia que me ia sair pela boca enquanto eu tentava articular-me o melhor possível para explicar com todo o coração o porquê de ser a tua singularidade que te torna a pessoa mais bonita do mundo. A verdade é só uma, sei que tenho muito a melhorar enquanto oradora, mas aquelas mulheres que decidiram ouvir o que eu tinha para dizer podem ter a certeza que ouviram alguém falar com muito amor sobre tudo o que eu acredito hoje em dia:
- Sim compulsão alimentar não é uma mania, mas sim um distúrbio
- Sim existe razão para nos ligarmos emocionalmente à comida como forma de satisfação rápida
- Sim as redes sociais alimentam comparações e falsas realidades que nos fazem criar ilusões sobre o nosso próprio corpo
- Sim nós somos muito, mas muito mais do que um rabo duro e uma barriga seca
- Sim somos mais do que um número, seja ele na balança ou de seguidores.
Terminei a Bless Woman Conference cansada, muito cansada mas com o coração a transbordar de alegria.
Porque mais do que ter partilhado a minha história eu venci uma barreira pessoal de falar sobre mim de uma forma tão íntima para um público. E o que me deixa mais feliz ainda foi isto ter acontecido exactamente nesta conferência. A verdade é que há muito tempo que digo que não acredito em acasos. Neste último ano e meio o blogue cresceu. Eu cresci com ele. E isto permitiu-me conhecer pessoas bonitas. Que de uma forma ou de outra criaram um impacto muito positivo na minha vida. E eu acredito que tinha de trabalhar com a Susana, para ela plantar na minha cabeça esta ideia que a minha voz devia ser ouvida, para depois ser exactamente, na Bless Woman Conference, que eu ganhava coragem e dava um verdadeiro pontapé na minha falta de confiança.
E porque é que vos falo sobre isto? Porque quero que percebam que eu também tenho falhas.
E que apesar de gostar quando me dizem que sou uma inspiração, quero que retenham, que acima de tudo devem inspirar-se em vocês. Nas vossas conquistas. Nas vossas lutas. E em momento nenhum compararem o vosso progresso ou sucesso, com aquela pessoa que admiram. É bom termos pessoas em quem nos inspiramos, mas não deixem que essa inspiração vos limite, por sentirem que não são capazes de chegar exactamente ali. Vocês são capazes de tudo, o tempo para alcançar, é que pode ser diferente para mim ou para ti.
Se eu deixei de ter medo de falar em público? Óbvio que não. Mas percebi que esta voz cheia de força que estou a descobrir, faz esta coisa de enfrentar os medos valer a pena.
fotografias da Tânia Carvalho
Joana Duarte - Palavra de Bailarina
Infelizmente, ansiedade é o meu nome do meio e as inseguranças acerca do \”corpo que visto\” é o meu apelido. E por isso, senti muito na pele tudo o que falaste. A bulimia não fez parte da minha vida, mas podia ter feito e tenho perfeita noção da linha ténue que nos separou. Ser bailarina… já se sabe.
Tentei ouvir-te e colocar-me no teu lugar ao mesmo tempo. Olhar para ti e ver nos teus olhos o peso que carregavas. Não vi. Talvez porque, ainda que na tua luta, consigas agora tirar partido de tudo o que passaste e transformar em ferramentas de força, necessárias para seguir o teu caminho. E ainda bem.
Em suma, foi um prazer ouvir-te. Foi uma inspiração conhecer a tua história e uma honra estar na mesma sala que tu. De ser um dos pares de olhos postos em ti, a \”beber\” das lições que tinhas para nos ensinar. Obrigado uma vez mais por teres a coragem de te colocares numa situação tão vulnerável, com tão poucas horas de sono (que também contribui um pouco mais para os nervos) e, ainda assim, falares com doçura e clareza para quem te queria ouvir.
Um grande beijinho,
Joana Duarte
vânia duarte
Joana Duarte – Palavra de Bailarinaquerida joana muito muito obrigada pelo teu carinho, foi um prazer conhecer-te e ver a miuda bonita que és por dentro e por fora. obrigada do fundo do coração. beijo grande