Eu e o Yoga: Que relação é esta?
Este post poderia falar-vos de coisas bonitas tais como o quanto o Yoga mudou a minha vida ou do quanto me sinto num estado de completa transcendência sempre que estico o tapete e começo a minha prática. Podia, mas não é sobre isto que vos vou escrever, porque nada destas coisas é totalmente verdade e perdoem-me os puristas, que dizem que assim que colocaram as mãozinhas num tapete a vida mudou e o universo ficou cheio de cores, mas eu não faço parte dessa equipa e invejo-vos essa paixão desmedida que aconteceu à primeira vista. Ou talvez não inveje porque a história que tenho para vos contar trouxe-me ensinamentos maiores do que se me tivesse perdido de amores no primeiro dia.
A minha relação com o Yoga começou algures em 2015.
Eu tinha alguma curiosidade com a prática e uma amiga tanto me falou do quanto era espectacular que lá fui eu para uma escola começar a praticar. A minha passagem por esta escola durou exactamente 1 mês, altura em que percebi que havia qualquer coisa no professor que eu não adorava e por isso pus-me a andar. Sem grandes remorsos diga-se de passagem.
Passados uns bons meses decidi que iria começar a praticar em casa, mas tal como todas as vezes que eu disse que também ia treinar em casa, este meu desejo saiu-me furado e eu acabava a maior parte do tempo no sofá, por isso procurei uma nova escola e lá fui eu tentar novamente. Nesta escola aguentei-me dois meses, depois veio o frio, o Inverno e as desculpas típicas de quem não está a gostar mas não quer admitir. Acabei por sair e regressar uns meses depois com o compromisso pessoal que tinha de fazer pelo menos 4 meses e se ao fim deste tempo o click não se desse eu dizia adeus ao Yoga.
Consegui cumprir este compromisso e mantive-me por lá quase 1 ano, e durante este período percebi que durante o tempo que eu estava a praticar eu nunca me entregava verdadeiramente aquele momento, a minha cabeça vagueava regularmente pelo saco do ginásio que tinha de ir preparar a seguir, a série que queria ver, o texto que tinha de escrever, ou seja, tudo menos aquele momento no tapete. E posto isto eu decidi que o Yoga não era para mim e desisti.
Até que em Junho deste ano uma colega de trabalho me falou da escola onde andava
Do quanto a prática de Ashtanga era incrível, e do quanto o professor – que até já escreveu aqui para o blogue – era espectacular. E eu muito a custo lá me convenci que não me fazia mal experimentar. Eu fui, experimentei e no momento a seguir inscrevi-me, porque sim o Ashtanga é tudo aquilo que dizem sobre ele, é apaixonante, intenso e é viciante, o que vos indicaria que foi aqui neste exacto momento que a minha vida mudou para sempre com o Yoga.
Lamento, mas não aconteceu. Pelo menos não aconteceu na altura que eu esperava que acontecesse, porque eu acabei por perceber com o Ashtanga, que o Yoga é a prática que mais vulnerável me deixa e esta vulnerabilidade ataca o meu ego e assim muito a custo percebi, que a minha não relação com o Yoga existia por causa de um vício antigo chamado comparação.
A verdade é que grande parte da minha vida foi pautada por comparação.
Comparei o meu corpo às miúdas da escola, depois às miúdas das revistas, depois às da praia e depois às das redes sociais. Comparei a minha cara, o meu cabelo, a minha vida e o meu talento. Comparei-me por inteiro durante demasiados anos achando que eu não era suficiente e por isso sempre balizei por baixo as minhas capacidades. Ora apesar de hoje em dia eu estar numa relação saudável com a minha imagem corporal, não significa que todos os vícios que tinha no passado desapareceram e apesar de eu já não me comparar fisicamente com ninguém, percebi que essa comparação existia no tapete de yoga.
Porque há quem tenha real talento para aquilo sabem? Porque há quem tenha uma flexibilidade brutal, porque há quem chegue lá e entre num estado de total transcêndencia, onde só a pessoa e o tapete existem. E eu estou ali, a concentrar-me na respiração, e em não cair, em como pareço um pau que não dobra e em como adorava ser assim como aquela pessoa.
Em como adorava ser assim como aquela pessoa
Foi um dos pensamentos que mais existiu na minha vida durante muito tempo e que eu julgava ter arrumado até ter começado a praticar Yoga. E esta mixórdia de sentimentos que o Yoga me trouxe tornou-se uma barreira muito grande entre mim e o tapete.
Até que em Setembro eu magoei-me num treino de crossfit e tive de parar de treinar durante 2 meses e apesar de ter continuado a praticar Yoga, dei um grande passo atrás porque deixei de poder fazer uma série de posturas que já fazia. E este passo atrás que podia ter-me desmotivado, foi provavelmente a melhor coisa que me aconteceu como lição preciosa de ouvir o meu corpo. Ao dar este passo atrás eu tive de tomar consciência dos meus limites para não piorar a lesão, e isto acabou por fazer com que toda a minha mente e o meu corpo estivessem única e exclusivamente focados em mim própria.
E de repente, deixaram de existir pessoas à minha volta, deixaram de existir posições incríveis que eu não consigo fazer e deixou de existir uma coisa chamada ego a bloquear-me a entrega ao tapete, tudo porque naquele momento eu tinha que estar realmente focada em mim para perceber até onde podia ir. E foi aqui, neste momento que eu me senti verdadeiramente conectada com a minha prática.
E isto ensinou-me outra grande lição que é:
Não se guiem pelas expectativas que as redes sociais vos criam e saibam ouvir aquilo que realmente a vossa alma precisa e gosta. O Yoga está na moda, gostar de yoga e fazer yoga está na moda. São muitas as imagens inspiradoras com posições incríveis e frases motivadoras de como o yoga pode ser transformador. E isto é válido se tu estiveres na frequência correcta, porque o Yoga é tão mais do que uma postura, é tão mais do que sacar uma fotografia bonita para o Instagram, o Yoga é vulnerabilidade do corpo e da alma, é retirar camadas de crenças e é aceitar que tudo tem um tempo e para nós que vivemos na era do carregar no botão e já está, o Yoga pode ser dos maiores desafios de sempre.
O que acabou por mudar em mim foram exactamente as minhas crenças com o Yoga, porque deixou de ser uma prática onde eu achava que tinha de conseguir fazer posições difíceis, para ser um despojar de armas, onde aceito a minha vulnerabilidade, onde aprendo diariamente a trabalhar com o meu ego e onde acima de tudo compreendo que o respeito pela minha individualidade é o maior work in progress que terei para sempre em mãos.
Tatiana Albino
🙂 gosto tanto de te ler.
Eu comecei a fazer yoga lá para os 2013/14 – ainda a recuperar do término de uma relação e um pouco por desafio a mim mesma.
Foi ficando. Sou assumidamente uma home practitioner – sinto-me melhor no meu espaço (a seguir ou não alguém num vídeo) e com menos distracções à volta.
Hoje em dia quando passo muito tempo sem fazer… dou por mim a sonhar com isso!
vânia duarte
Tatiana Albinoe eu gosto de te ter por aqui <3 Lembraste dos desafios de yoga antigamente? temos de voltar a fazer um ihihihih
Daniela Soares
Eu experimentei pela primeira vez este ano e identifiquei-me logo, no entanto nem sempre foi fácil e quando fazia (ou tentava fazer) algumas posições pensava muitas vezes – o que é que eu estou a fazer aqui?
Infelizmente sai desse ginásio e ainda não voltei ao yoga, porque em casa sozinha não tenho a motivação suficiente tal como tu, mas espero poder voltar brevemente.:)
Another Lovely Blog!, https://letrad.blogspot.com/
Joana Rito
Sempre tive tanta curiosidade acerca do Yoga! Só que sinto que preciso de um guia e que o consigo fazer sozinha em casa (pelo menos ainda). No entanto, estive a ver e andar em escolas ou é um pouco caro, ou este conceito bonito tem andado a vulgarizar-se e já não se faz yoga na sua plenitude por causa disso. Espero, mesmo, poder finalmente inserir-me nesse mundo, porque já estou há muitos anos a ponderar fazê-lo. Se fosse de Lisboa, ia já a correr para a escola que sugeriste 💛
vânia duarte
Joana Ritoeu que sempre andei às turras com o Yoga, só este ano consegui encontrar uma escola e um professor que realmente me fizessem entregar por completo a esta pratica e tem sido realmente muito transformador. Um dia que venhas a Lisboa vens experimentar comigo 🙂
Catarina Oliveira
Olá Vânia,
Comecei a ler o teu blog recentemente e muito obrigada pela tua partilha. Não posso dizer que seja assídua do yoga mas gosto muito e sinto que tenho mesmo de enveredar por isso. Oque me têm balizado até ao momento? Várias situações: já frequentei um ginásio onde praticava yoga, mas estar a tentar meditar com música altissima vinda de outras aulas de fitness não combina e não ajuda nada a concentrarmo-nos no nosso eu interior; entretanto, tenho andado à procura da \”tal\” escola e do \”tal\” professor. Coincidentemente também moro pelas bandas de carcavelos, e já me cruzei várias vezes com a escola de que falas, contudo, aparecem as outras barreiras: dois filhos pequenos a meu cargo, horários de trabalho completamente imprevisíveis e não tenho conseguido disciplinar-me e garantir um compromisso comigo mesma e com o yoga. Mas vontade não me falta e acredito mesmo que poderia ser o clic que eu preciso na minha vida. Mais uma vez grata pelas tuas partilhas.
vânia duarte
Catarina OliveiraAhhhh então tens de vir experimentar, ainda por cima perto de casa, procura comprometer-te com 1x por semana, não é preciso ser logo a abrir x vezes por semana, quem sabe assim aos poucos não começas a conseguir criar a tua rotina 🙂 beijinho