A ansiedade não passa (só) com pensamentos positivos
Quando penso em todos os ataques de pânico que já tive sinto um aperto no peito, especialmente quando remonto à altura em que eu não fazia a mínima ideia que sofria de síndrome do pânico, que nunca tinha ouvido sequer falar disto, e que não sabia que a ansiedade pudesse escalar para uma coisa destas. Para mim, aqueles primeiros 6 meses em que não sabia o que tinha foram de puro terror, porque por um lado eu tinha total certeza que ia morrer a qualquer altura vitima de um ataque cardíaco e por outro sempre que regressava de mais uma ida ao hospital onde vinha com um qualquer medicamento para baixar o ritmo cardíaco e uma palmadinha das costas eu sentia-me completamente estúpida por não perceber o que se passava comigo.
E uma das coisas que mais me atormentava era quando alguém me dizia para ter calma, que precisava de relaxar ou para pensar positivo que tudo ia correr bem. Sempre que isso acontecia eu sentia-me a gritar sozinha no meio de uma multidão sem que ninguém me estivesse verdadeiramente a ouvir e muitas vezes questionei-me se a culpa disto acontecer não era efectivamente minha e da minha não capacidade para relaxar quando tinha um braço dormente, o corpo a tremer e a cara paralisada.
Acreditem que eu tentei muitas vezes relaxar
Antes de ser finalmente diagnosticada com síndrome do pânico, tentei muitas vezes respirar fundo, tentei muitas vezes pensar positivo e acreditar que não se passava nada de errado comigo – mesmo quando o meu corpo claramente me dizia que o contrário – e sempre que não conseguia controlar esta coisa estranha que se passava no meu corpo com pensamentos felizes e luminosos eu sentia-me muito frustrada. Frustrada por ter de ir para o hospital novamente, frustrada por ter de ouvir médicos a dizerem-me que eu tinha de me acalmar sem nunca me explicarem o que eu tinha e frustrada por ter de incomodar as pessoas à minha volta com algo que eu não sabia explicar porque e como acontecia.
Foi assim que vivi 6 meses até finalmente ter ouvido falar sobre síndrome do pânico e começar a fazer medicação e a fazer psicoterapia, e a verdade é que a coisa não melhorou depois disso, porque se antes de saber o que tinha eu achava que o meu problema era físico, ao saber que sofria desta questão, os conselhos para ter calma, para respirar fundo, para não pensar nisso aumentaram por parte de muita gente à minha volta e a minha frustração também aumentou, porque no fundo aquilo que eu sentia era que parecia que todos viam a cura para este problema como algo ali tão perto e disponível nas minhas mãos enquanto eu me sentia a afundar num medo terrível de ter novos ataques de pânico sem saber como os controlar.
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Eu entendo que as doenças do foro mental sejam complicadas de entender por quem não as tem
Entendo que quando ouvimos falar de ansiedade a primeira coisa que nos sai instintivamente da boca é um “tens de ter calma” e entendo que hoje em dia com tanta gente a falar sobre sermos positivos, acreditarmos no universo e olharmos para a vida de forma mais relaxada seja tentador pensar que basta relaxar para que tudo se resolva. E sim, é preciso relaxar, mas é preciso entender que doenças do foro psicológico são efectivamente doenças, são algo que apesar de não ser tão palpável de explicar como alguma doença física, acontecem e precisam de um tratamento sério e profundo que nos leve a entender o porquê daquilo acontecer. Sim é preciso pensar que vai correr tudo bem, mas também é preciso aceitar que muitas vezes isso não vai chegar.
E acima de tudo aquilo que eu mais acredito é que por vezes o melhor conselho que se pode dar a alguém que sofre de ansiedade é mesmo “deixa sair tudo cá para fora, chora, grita, bate”, para depois
se oferecer um abraço casa onde nos possamos sentir acolhidos nesta tempestade que é viver com o coração na boca com uma doença muito difícil de explicar.
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Andreia Miranda Pereira
Olá Vânia, o meu nome é Andreia e a minha irmã sofre de ansiedade, ataques de pânico e depressão. Tem alturas melhores, alturas piores, e neste momento, infelizmente, está numa fase de \”fundo do poço\”. Ao contares a tua história tens-me ajudado muito a compreender melhor esta doença dela. Eu, que sempre a quis ver feliz, e que tento ser sempre \”pensamento positivo\” no meio de qualquer crise não conseguia compreender porque é que ela estava assim, porque é que ela não dava a voltar por cima. E sim, eu era a que dizia sempre \” calma, pensamento positivo, vai correr tudo bem\”. Porque para nós que adoramos estas pessoas é difícil não tentar apaziguar, e a única forma que eu tinha para o fazer era dizer essas coisas. Graças a ti, a semana passada, quando ela teve um ataque de pânico, não dei palpites, não tentei acalmar, só a ouvi e disse \”sabes, naquele blog que partilhei contigo ela falava sobre isso, de parecer que vais morrer e não conseguires fazer nada para mudar isso, deve ser assustador para ti\”. Ela vai para a semana ao psiquiatra, sugeres mais alguma técnica/terapia/especialidade para a ajudar? Obrigada, um beijinho!
vânia duarte
Andreia Miranda PereiraOlá Andreia. Obrigada pela tua partilha e acima de tudo fico muito feliz por saber que os meus textos ajudam não só quem sofre deste problema directamente mas a quem acompanha, porque eu sei que para quem está de fora também é muito dificil, por isso parabéns pela tua vontade em ajudar a tua irmã e em procurares entender todo este monstro estranho que comanda a ansiedade dela. Relativamente a outras técnicas eu fiz psicoterapia durante 2 anos e nessa altura comecei também a praticar Yoga que mantenho até hoje e ajudou-me muito a controlar a ansiedade e a respiração. De resto não experimentei mais nada. beijinho grande e força para a tua irmã <3