A alegria de finalmente viver em paz comigo
Eu falo muito sobre viver em paz e ter percebido ao longo destes anos que ao contrário do que sempre achei, aquilo que eu mais queria era efetivamente paz alimentar e não um corpo de sonho baseado numa qualquer utopia que eu tinha na cabeça. Foram 15 anos a viver em busca desta paz e finalmente consigo dizer que a alcancei e percebi isto na última consulta que tive com o meu querido nutricionista Júlio Castro Soares.
O Júlio acompanha-me desde Janeiro de 2017.
A primeira vez que entrei no consultório dele toda eu era uma confusão tremenda. Tinha vindo do terrível ano de 2016 onde fui parar ao hospital por causa de mais uma dieta e tinha em mim um desejo profundo de me curar. De curar a minha relação com a comida e comigo mesma. Já antes aqui escrevi que ao longo de toda a minha vida passei por mais de 15 nutricionistas. O meu desejo era encontrar o plano perfeito, aquele que quase por magia me iria dar o corpo que eu tanto queria e consequentemente a minha felicidade. Eu dedicava-me aos planos 1 – 2 meses e depois desistia, colocava defeitos e saltava para o próximo nutricionista.
Em 2017 alguma coisa mudou em mim (ou pelo menos queria mudar), a minha ida à consulta com o Júlio não foi por causa de um corpo perfeito, foi essencialmente para conseguir vir à superfície do buraco negro onde eu andava enfiada há anos. Foi um assumir que eu precisava mesmo de ajuda e precisava de me comprometer com quem a disponibilizava.
Durante estes 3 anos passámos por muitos processos e nem todos foram um mar de rosas.
Análises com valores menos bons, épocas de treino demasiado intenso, alturas em que eu deixava que as minhas emoções comandassem a minha alimentação e dava por mim a engordar em poucos meses versus alturas em que só queria ser magra. Passámos também por um burn out e depois por toda uma mudança de carreira e estilo de vida que também teve impacto no tipo de alimentação que tenho.
Até que chegámos à semana passada, onde em consulta via zoom, o Júlio me pediu os valores de peso e medidas (fazemos sempre isto para registo) e eu respondi que me tinha esquecido. A resposta foi: “É curioso. A Vânia de há 3 anos nunca diria que se tinha esquecido de se pesar ou tirar medidas”. Quando ouvi aquilo, percebi que finalmente eu tinha deixado de viver em função da comida e da balança. Eu, que sempre fui obcecada pela minha composição corporal, esqueci-me genuinamente de me pesar e tirar medidas e perceber isto é absolutamente libertador e mostra tanto a mim como a vocês que é efetivamente possível viver com uma boa relação com a comida e com o corpo.
E assim, existem duas razões essenciais para escrever este post:
1 – Viver em paz com a comida e contigo não significa que não queiras saber de ti
Eu acho que há uma grande confusão entre não viver obcecado com o corpo e a comida e o atirar tudo ao ar e seja o que o senhor quiser. Eu sempre disse que sou completamente a favor de mudanças e acredito que se não estás bem contigo deves sem dúvida nenhuma pedir ajuda e mudar.
Ora estar bem comigo e deixar de viver em torno da comida não significa que eu deixei de cuidar de mim, muito pelo contrário. Sim, é um facto que não me peso desde a última consulta em Maio, mas isto para mim é de facto libertador, afinal de contas eu tive alturas da minha vida em que me pesava 3 vezes por dia.
Mas, o facto de não viver em função da comida não significa que não tenha atenção às minhas escolhas. É claro que cuido das minhas escolhas alimentares e é claro que às vezes ainda acontecem momentos menos felizes onde as emoções acabam por levar a melhor, mas aquilo que existe hoje em dia é uma grande noção do impacto da alimentação na minha saúde seja ela física e mental.
Aquilo que existe hoje é a noção de que quando me alimento com respeito pelo meu corpo, o meu rendimento melhora, o meu sono melhora, a minha disposição melhora. E se estar aqui é tão bom é aqui que quero continuar (ou regressar) quando esporadicamente acontecem momentos de compulsão.
2 – Estabelecer hábitos demora tempo e tu precisas de te comprometer
Eu recebo muitas mensagens a perguntarem-me como é que eu fiz. Como é que consegui. Dicas e pedidos de ajuda de pessoas desesperadas por paz tal como eu estava há 3 anos atrás e a verdade é que por mais que eu possa tentar ajudar, tudo isto ainda é um processo para mim, um processo feito de escolhas que eu faço todos os dias. Um processo que começou em 2016 quando fiquei doente e decidi que me iria curar, levando-me a pedir mais uma vez ajuda nutricional em 2017.
Ora tudo isto não aconteceu de um dia para o outro e foram muitas as vezes em que pensei em desistir, mas acabei por não o fazer porque sabia que desistir não me iria levar aonde eu queria – curar-me. Assim, uma das coisas que mais percebo é que as pessoas querem soluções rápidas, querem que lhes diga que vai dar certo com este ou aquele professional, mas quando explico que sou seguida há 3 anos por uma pessoa parece que a luz se apaga. Porque são 3 anos e não 3 meses.
Estes 3 anos permitiram que este professional me conhecesse verdadeiramente. Conhecesse as minhas carências e saiba que tenho uma tendência para ter o ferro baixo e é preciso cuidar disso com cuidado, da mesma forma que sabe que há determinadas alturas em que tenho tendência para ficar obecada com açúcar e por isso há determinados alimentos que me ajudam com esta questão. Tudo isto só se consegue com um profundo trabalho de equipa e o compromisso de querer ser e estar saudável. Tudo isto só se consegue quando tu decides que está na altura de te tornares a tua prioridade e deixares de lado a imagem do que é suposto ser.
A grande questão aqui é que sim, o Júlio para mim é um dos melhores profissionais que já conheci. Falamos de meditação, do sono, nervo vago, crossfit ou yoga. Falamos de muitos assuntos que não são só alimentação mas que estão diretamente ligados ao bem estar físico e emocional e é exatamente por isso que ao longos destes 3 anos acreditei sempre nesta pessoa que escolhi para me guiar, mas nada, absolutamente nada do que ele me pudesse passar ou ensinar teria dado certo se eu não me tivesse comprometido.
Porque por mais planos alimentares que te possam passar, se tu não entenderes que cuidar de ti é uma escolha para a vida e que nem sempre é linear irás continuar sempre à procura do plano ideal.
Inês
Só dar-lhe os PARABÉNS por esse momento ter chegado. E é algo delicioso de se sentir.
Para mim chegou há cerca de 2 anos, e nunca estive tão feliz comigo mesma como agora. Tudo leva o seu tempo. Obrigada pelo post maravilhoso
Andreia
Estou neste caminho. Nutricionista e psicoterapia em equipa 😍 obrigada por este texto para me dar força a continuar a acreditar que este e o verdadeiro caminho e que os atalhos não funcionam.
Vânia Duarte
AndreiaMuita força para esta jornada Andreia 🙂