Esta ansiedade que me vive no peito
2019 trouxe-me um ataque de pânico. Assim sem grandes conversas nem rodeios foi mesmo isto que aconteceu. A meia noite deu-se, brindou-se, saí para dançar como há muito tempo não fazia, diverti-me, ri, dancei e pulei muito, vi o primeiro sol do ano nascer e quando já estava em casa tive um grande ataque de pânico. Um daqueles, onde acabei por ir parar ao hospital por ter a total certeza que ia morrer do coração, um daqueles, exactamente igual a muitos que tive no passado antes de saber que sofria de síndrome do pânico. Foi exactamente assim que começou o meu dia 1.
E vocês podem pensar que começou mal, eu na altura também pensei
Também me questionei porque raio o meu ano estava a começar assim se eu estava tão bem. Mas depois, de oxigénio medido, de batimentos cardíacos controlados e de uma boa noite de sono eu percebi que este ataque de pânico serviu para me mostrar que por mais que eu esteja muito melhor, a ansiedade é algo que faz parte de mim e às vezes quando eu deixo de ouvir o meu corpo isto acontece.
E porque é que vos conto isto? Para vos explicar que quando eu digo que cuidar de nós é um trabalho para todo o sempre é mesmo verdade, e para vos mostrar que eu, apesar de falar em cura interior também tenho momentos em que tudo parece que volta atrás, afinal de contas eu sei que não tenho nenhum problema de coração, eu sabia que não era um ataque cardíaco e mesmo assim, apesar de todas as técnicas que inclusive já partilhei aqui no blogue para combater a ansiedade, apesar de todos os sintomas que me mostravam que aquilo era um ataque de pânico, no dia 1 de Janeiro eu não consegui processar tudo isso e tive de ir ao hospital por achar que estava a morrer do coração.
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Isto não fez de mim mais fraca por ter acreditado numa coisa quando eu sei que não é verdade.
Isto não faz de mim menos capaz, nem menos inteligente, faz de mim aquilo que sou – humana, e às vezes por mais que saibamos as coisas, quando a mente acredita muito em algo é difícil de dar a volta.
A razão de partilhar isto com vocês é porque de vez em quando, sinto medo de me distanciar, quase como se eu tivesse encontrado o Santo Graal do equilíbrio alimentar e do controlo de ansiedade e estivesse num lugar longínquo, onde quem me escreve a pedir ajuda só consegue ver uma miragem e fica ali a sonhar com o dia em que cá vai chegar. A verdade é que eu cheguei muito longe sim, mas eu também caio, ainda hoje o faço, seja com comida ou seja com o simples facto de ainda existirem alturas em que não consigo controlar um ataque de pânico e tenho de ir para o hospital. E está tudo ok, faz parte. Faz parte deste compromisso que vos falei no final do ano, este compromisso de cuidar de mim para sempre, porque quando deixo de o fazer a minha mente e o meu corpo ressentem-se.
Aquilo que eu menos quero é que achem que viver uma vida equilibrada é algo inatingível
Porque não é. Viver uma vida equilibrada tem tanto de belo como de trabalhoso, tem tanto de calma como de momentos em que se dão 3 passos para trás, é intenso e ao mesmo tempo saboroso. Eu não deixei de saber como controlar a ansiedade o que não significa que todos os passos que eu conheço para me ajudarem funcionem sempre. E isto é importante de reter, porque parece que hoje em dia o segredo para uma vida equilibrada faz-se por x passos e no fim chegamos ao topo da montanha e mais nada nos vai incomodar.
É errado pensar assim e é mais errado ainda fazer as pessoas acreditarem nisto. Uma vida equilibrada também tem os seus altos e baixos e é na gestão disto que está a grande aprendizagem. Eu não deixei de ter ataques de pânico, eles não desapareceram como por magia. Eu simplesmente aprendi a viver com a minha ansiedade, o que não significa que às vezes não dê para o torto. E isto é importante para que percebas que por mais que as pessoas pareçam bem resolvidas na internet, por mais que as pessoas contem histórias inspiradoras de superação, todos nós temos os nossos demónios, todos nós temos momentos em que as coisas falham, e há quem assuma isto e há quem não o faça. E é aqui que o perigo da comparação reside.
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Eu não tinha um ataque de pânico grande há quase um ano e não ia para o hospital por causa de um, há mais de 3 anos. Para o exterior isto mostraria que eu estou totalmente resolvida com a minha ansiedade, para mim só me mostrou aquilo que eu escrevo tantas e tantas vezes por aqui: cuidar de nós é um work in progress… para sempre.
Sofia Gonçalves
Nunca me revi tanto um texto.
Eu com medicação tanto para a ansiedade como para o coração já passei a fase má e estou estabilizada mas sei que existem dias que estou perto de reverter caminho. Mas lá me agarro a qualquer coisa e passa.
Mas sei que um dia será tarde e embora me assiste um pouco não há problema é normal e vou conseguir passar. 😊
Carolayne Ramos
Vânia, espero que te encontres melhor. Eu cá já tive as minhas doses de ataques de pânico, mas nunca ao ponto de ir parar ao hospital, mas sei bem como é sentir que, de um momento para o outro, tudo se erradicará… O que nos distingue da pessoa que fomos, na hora do pânico, é o facto de irmos trabalhando cada vez mais pelo nosso bem-estar, a favor da saúde mental. Não há nada tão belo quanto o facto de nos admitirmos humanos e procurarmos o melhor que há em nós!
Beijo grande,
LYNE, IMPERIUM BLOG
Mary
Obrigada Vânia, por seres sempre tão sincera contigo e connosco. Porque lá está, por muito que estejamos em paz connosco e que a nossa vida vá correndo bem, há sempre altos e baixos e é preciso admitir que algo não está bem ou que algo nos preocupa.
Não sofro de ansiedade nem nunca tive um ataque de pânico, felizmente, mas também tenho os meus momentos mais ansiosos, em que sinto o coração a ficar mais acelerado. Simplesmente nunca cheguei a esse ponto, mas nem sempre corre tudo bem. Lutar por nós é mesmo uma constante. E obrigada por nos fazeres ver isso <3
Filipa
Olá Vânia,
Um grande obrigado por esta partilha tão verdadeira! No meu primeiro ataque de pânico também fui parar ao hospital e, tal e qual como dizes, parece que estava a ter um ataque cardíaco! Isto foi aos meus 19/20 anos, hoje estou com 31 e aprendi a conviver com estes momentos de ansiedade. No meu caso, já vai fazer 2 anos desde que tive o meu último ataque de pânico! No entanto tive momentos de pré ataque de pânico que felizmente consegui controlar. E se não conseguisse haveria de passar. E aprender significa reconhecer que pode voltar a acontecer, o nosso corpo está a comunicar connosco! Também noto que há uma pressão para o superar as coisas e quando \”falhamos\” parece que há algo de errado connosco! Deviam haver mais partilhas como a tua, pois o bonito e o maravilhoso da vida é irmo-nos superando a cada etapa e está tudo bem se falharmos! Voltamos a tentar! Obrigada obrigada obrigada ! <3
vânia duarte
Filipa\”Também noto que há uma pressão para o superar as coisas \” concordo muito contigo, parece que não há espaço para sentir tudo o que temos de sentir no seu devido tempo. Sim é bom superar coisas, mas parte desse superar engloba também o ter de ficar ali a perceber e a tentar vir ao de cima e esta pressão do superar tudo acaba por minimzar muito problemas que são sérios. Obrigada eu pela tua partilha 🙂
Mara
Obrigada, obrigada por mais uma vez nos ensinares que não estamos sozinhos na luta!
Parabéns pela tua sinceridade, pelo ser humano incrível que és.
Obrigada, obrigada e um beijinho no coração
vânia duarte
Maraobrigada eu por este feedback maravilhoso e força 🙂 não estamos sozinhas neste caminho da ansiedade<3
Niam
Muito bom este post, Vânia. Acho que você é muito corajosa por compartilhar esta experiência, que pode ajudar a muitas outras pessoas que se sentem assim e estão perdidas.
Obrigado, o trabalho que você faz é muito importante <3 <3 Beijinhos.
vânia duarte
NiamMuito obrigada pelo carinho e por me ler. um grande beijinho 🙂