Sobre não ter cortinados em casa (uma metáfora para a vida)
Já há uns bons meses que eu andava a implicar com os meus cortinados em casa. Havia ali qualquer coisa que me estava a aborrecer profundamente e durante muito tempo foram várias as vezes que eu disse que mais cedo ou mais tarde os reformava. E assim como não quer a coisa há umas semanas atrás os cortinados foram doados e toda a minha casa ficou sem cortinados.
Ora pode parecer uma coisa meio estranha, porque é comum no nosso país as casas terem cortinados, mas agora que olho para as minhas janelas e para a minha casa, sinto-a muito mais iluminada e calorosa do que quando ali estavam uns pedaços de pano a enfeitar e há uns dias consegui criar uma ligação sobre esta coisa de não ter cortinados e a minha relação com o meu corpo.
Eu passei muito tempo a desejar ser outra pessoa.
E por causa disso sempre procurei ao máximo esconder-me atrás de cortinas. As cortinas que eu usava, baseavam-se numa série de ideias pré-concebidas que eu tinha de que para ser feliz tinha de ser muito magra, para ser amada e aceite tinha de ter um corpo seco e definido e para mostrar que me esforçava tinha de comer de certa forma e treinar muito mais do que treinava.
O Instagram serviu-me durante muito tempo de cortina onde eu mostrava uma felicidade que não existia através de comida que eu não gostava e de treinos que me esgotavam, mas ali enquanto eu partilhava a minha evolução aquele sentimento de aceitação por parte de outras pessoas que eu não conhecia davam-me uma falsa sensação de felicidade que aos poucos se tornou num pequeno veneno.
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A Vânia de hoje é uma Vânia muito diferente de há dois anos, não porque tenha mudado fisicamente mas sim porque eu abri as cortinas deste meu corpo que é na verdade a minha casa e deixei que entrasse luz suficiente para me ajudar a encontrar o caminho para aquilo que na realidade eu sempre quis: paz alimentar e paz com o espelho. E esta paz com o espelho que eu falo, não significa que hoje em dia eu tenha uns abdominais secos e um rabo duro, e também não significa que eu adore todos os dias o que vejo, significa simplesmente que eu já não vivo numa guerra desmedida comigo própria.
Para isto acontecer é preciso que abras as cortinas da tua alma
E comeces a destralhar. Comeces a tirar cá para fora todos os teus medos, angustias e frustrações e que entendas que para uma casa luminosa vais ter de lidar com coisas que estavam ali acomodadas e entranhadas nas paredes da tua alma há muito tempo. Para além disto, vais ter de perceber que há coisas que já não se usam, outras que já não te servem e outras em que já não acreditas e que por mais que te custe tens de te desapegar delas e isto do que falo são as tuas crenças relativamente às tuas capacidades. Porque não adianta de nada eu dizer-te que és capaz de chegar aqui. Não adianta encontrares inspiração nos meus textos motivadores, sentires que aquilo que te escrevo faz sentido se não tiveres verdadeira vontade de mudar.
Acima tens de te comprometer a sério, não podes continuar a adiar, à espera do dia 1 de Janeiro, da próxima segunda-feira, do verão ou do pós férias, porque enquanto esperas, vais acumulando mais lixo na tua alma e esta tua casa que merece respeito e amor, vai continuar de cortinas fechadas à espera que um dia, tu percebas que a perfeição que tu tanto desejas já existe e és tu. Só precisas de deixar entrar luz suficiente em ti.
Tatiana Albino
Olha isso é tudo muito giro mas quando tens uma casa mal isolada num prédio em que ouve TUDO, mas… tudo, (só um exemplo: o despertador da casa ao lado, em cima e em baixo)… as cortinas ajudam a manter o frio lá fora e o som lá dentro. Tudo o resto, faz todo o sentido – como sempre, não te cansas de ter razão? – e por acaso reparei na ausência das cortinas no nosso almocinho, mas não questionei porque Suécia. <3
vânia duarte
Tatiana Albinoahahahahhaha adoro o comentário esquizófrenico 😛 mas sim tu sabes que tenho sorte com o isolamento da minha casa e com os vizinhos 😛
Sofia Costa Lima
Abri o teu post intrigada, a pensar em como é que as cortinas eram uma metáfora para a vida, e eis que fico maravilhada com o teu texto! Nunca tinha pensado nisto assim, mas de facto às vezes escondemo-nos atrás de cortinas e não deixamos entrar luz na nossa vida. Obrigada por me deixares sempre a pensar em tanta coisa! 💙
vânia duarte
Sofia Costa Limaawww fico tão contente que tenhas gostado deste post 🙂 beijinho grande
Natalia
Por acaso fiz o mesmo há uns dois sanos também! Só que, o sol fez estragos no chão porque a minha casa é mesmo muito exposta ao sol! resultado voltei a por cortinas, desta vez translucidas , para deixar entrar a luz, mas quebrar o sol um bocadinho…
Em retrospetiva, também eu, nessa altura precisava muito de luz, foi numa faz um pouco triste da minha vida. Por isso, entendo bem esta tua metáfora.
Beijinhos Vânia, que o ano novo nos traga muita luz.