Às vezes tudo o que precisas é de fazer um detox à vida
Fala-se muito de detox hoje em dia.
Há remédios, sumos, alimentos e planos que prometem desintoxicar o organismo, tornar tudo mais limpo, leve e saudável. São muitos os que procuram os milagres de um bom detox. Limpa-se o corpo, fica-se espectacular mas e a vida? Não deveria esta, sofrer de um plano de limpeza profundo de vez em quando?
De que te adianta beber sumos verdes todas as manhãs e comer super-alimentos se a alma está confusa e a vida cheia de coisas.
Tenho pensado muito nisto ultimamente. Nas muitas coisas que temos. Nas muitas coisas que queremos. Nas muitas pessoas que carregamos. Nas muitas horas que passamos a ver as vidas dos outros – que também carecem de um bom detox – e cada vez me apercebo mais, que não há mal em não querer estar em todo o lado ou não querer fazer parte da vida de toda a gente.
Carregamos demasiadas coisas connosco.
Somos a geração do tudo. Temos tudo. Sempre e à distância de um clique. Temos muitos sítios para ir. Temos muitos locais cool para visitar, muitas fotografias giras para tirar e postar, muitas hastags para colocar. Temos muitos conhecidos. Muitas pessoas que entram e estão por lá sem efectivamente estarem. Temos amigos e amores. E tudo o que nos é ensinado desde pequenos, é que temos de ter de tudo um pouco. Temos de criar laços, temos de ser simpáticos e afáveis, temos de estar apresentáveis, temos de ir, estar e saber estar.
E tudo isto é realmente importante, com a pequena nuance que também nos deveria ser ensinado que não há mal em não querer estar. Não há mal em não querer criar laços. Não há mal em simplesmente querer largar, porque te sentes demasiado overwhelmed com tudo e todos que carregas na vida. Não há mal em simplesmente quereres desfrutar mais de ti. Ninguém te explica que decidires fazer um verdadeiro detox à vida não te torna anti-social, antipática ou deprimida.
Hoje em dia há demasiada coisa a acontecer e demasiados sítios para estar.
E eu muitas vezes sinto-me impotente para o tanto que quero fazer, versus aquilo que efectivamente consigo e de repente dou por mim a pensar que às vezes, tudo o que preciso é estar em casa, a não fazer absolutamente nada, com um pijama velho, o cabelo despenteado e a loiça por lavar. E não há mal em querer isto.
É nestes momentos que começo a fazer um detox à minha vida.
Porque tal como aspiro, limpo e lavo a casa onde vivo, de vez em quando é bom fazermos exactamente o mesmo à nossa vida. Uma profunda e intensa limpeza onde organizamos peça por peça o que está desarrumado, o que já não nos serve e o que tem de desaparecer imediatamente.
Nestes momentos dou por mim a questionar muitas coisas. As minhas escolhas. As decisões que já tomei e as que quero tomar. Os caminhos que escolhi percorrer e os que deixei em stand-by, as pessoas que já cá estavam e as que deixei entrar mas que não estão na totalidade e analiso o que precisa ir. Geralmente estes detox de alma costumam deixar-me mais capaz de aceitar que é OK dizer que não, quando não me fizer sentido, sem ter medo de estar a desiludir o outro. A verdade, é que passamos tanto tempo a pensar o que os outros vão achar de nós, que deixamos de ouvir aquilo que vai cá dentro. Aquilo que realmente queremos.
Eu adoro pessoas. Pelo menos tenho tido a sorte de conhecer muitas realmente boas. Adoro passear, adoro estar em movimento, adoro ir sem destino, mas de vez em quando – e só de vez em quando – também adoro limpar o caos. Largar os que já não me fazem bem nem mal e desfrutar do silêncio encantador que é, saborear uma vida sem ruído. Seja ele qual for.
Bom destino
Revejo-me muito neste post. Andamos tão acelerados a maior parte do tempo e quando devíamos estar em paz ainda sentimos tanta \”obrigação\” de ir ali ou estar com não sei quem que acabamos esgotados. Eu já aprendi a dizer que \”não\” e valorizo muito o meu tempo sozinha. Gosto e preciso, faz-me bem 🙂 e se não se enquadra no que as outras pessoas acham, bem…paciência! 🙂
vânia duarte
Bom destinoé isso mesmo que ando a sentir sabes, esgotada pelo excesso de coisas, pelos excesso de informação e pelo excesso de estímulos. Acho que o minimalismo nunca fez tanto sentido na minha vida como agora.
Catarina (Joan of July)
Damn, gurrlll!! É mesmo isto que tenho andado a sentir! Estava até a planear um post sobre isto, mas vou escrever na mesma porque me faz tanto sentido (prometo não copiar! eheheh). É tão bom saber que não sou tolinha por sentir isto e por, às vezes, preferir ficar em casa em vez de ir a tudo e mais alguma coisa.
Muito bom. :)*
vânia duarte
Catarina (Joan of July)Ahahahaha, estás à vontade para escrever sobre este tema. Sinceramente acho que é preciso. As pessoas estão a deixar de saber estar sozinhas e acho que isto é muito perigoso. E não, não és nada tolinha, especialmente nos últimos tempos ando cada vez com menos paciência/vontade para estar em tantos compromissos sociais. Talvez seja a velhice, a maturidade ou simplesmente ter coragem para admitir que é OK não gostar de todos nem querer estar em todo o lado. beijo grande
Raquel
A minha mãe é o maior exemplo de pessoa que faz detox na vida. É mais fácil ela não querer estar do que querer estar em todo o lado. Aprecia muito o seu tempo sozinha e fico zangada quando tentam impingir saídas ou compromissos que ela não faz questão de ir. É uma pessoa que aprecia muito mais aquilo que efectivamente tem e que não está constantemente a precisar de ser hiperestimulada, que é o que acontece com a maior parte da sociedade hoje em dia, e claro eu também sofro desse mal, que é estar constantemente a ser bombardeada com informação de todo o lado.
vânia duarte
RaquelAndo a aprender muito sobre apreciar a minha companhia. Aliás comecei a aprender sobre isto o ano passado, mas este ano que tem sido um boom de acontecimentos ando cada vez mais focada nisto, exactamente por me apetecer simplesmente estar mais comigo e com os meus. Acho que o oversharing de vidas espectaculares me anda a cansar um bocadinho 🙂
Ana Beatriz
É mesmo verdade, hoje em dia as 24h passam a correr e ficam sempre coisas por fazer, é impossível!!
Beijinhos
Andreia Moita
Ai caraças. É que é mesmo isto. Dou por mim a passar um fim-de-semana completamente a correr porque tenho de ir a todo o lado, estar em todo os sítios, ver toda a gente, conhecer tudo porque o fim-de-semana é a única altura em que temos mais tempo e… bolas, apesar de adorar estar ocupada, canso-me! Adorei a parte em que dizes que às vezes gostarias de ficar em casa de pijama e descabelada porque realmente ouvi-te mesmo a dizer isso aqui deste lado e acho que deviamos avançar com um #movimentomulheresdepijamaedescabeladas.
Bjinhos 🙂
RITA
Sinto exactamente o mesmo! Há coisas tão boas na vida e tão simples como ler um livro, passear, dormir na relva, estar com os nossos cães em casa – mas todos os dias somos estimulados a fazer mais isto, mais aquilo, sempre conectados e sempres In. Estamos todos no sindrome do Keep Up with Everyone! Estes momentos de introspecção são verdadeiramente importantes para podermos ir sempre na direção certa – a NOSSA direção!
Inês
Gostei muito do post! E identifico-me muito porque, apesar de também gostar de estar com pessoas, preciso de estar sozinha a escrever, a ouvir música, a dar um passeio na praia com frequência para me sentir bem. E, às vezes, é difícil explicar que não é por não querer estar com outras pessoas, é simplesmente porque é assim que me sinto a recuperar energia para a vida de todos os dias.
Marta Moura
É mesmo!