Eu já fui viciada em nutricionistas
Há uns meses atrás dei por mim a tentar fazer uma lista de todos os nutricionistas a que já tinha ido. Consegui contar 15. Mas na verdade acho que foram mais e percebi que para além do meu vício com a comida eu fui efectivamente viciada em nutricionistas.
Como já contei por aqui, durante anos o meu objectivo era chegar aos 50 quilos. Tinha uma fixação doentia com este número, até que cheguei e continuei a não gostar. Depois de ter percebido que mais importante que um número da balança era a composição corporal tornei-me obcecada pela minha percentagem de massa gorda. No meio destas minhas obsessões eu lidava com a minha frustração de não conseguir alcançar estes números. E por isso comia de forma descontrolada. E sempre que isto acontecia eu decidia que tinha de mudar de vez e marcava uma consulta com um nutricionista.
Nutricionistas Desportivos, nutricionistas funcionais, dietistas.
Naturopatas, nutricionistas vegan, nutricionistas da moda, e preparadores de competição fitness. Os meus dedos das mãos não chegam para contar o número de profissionais de saúde a quem recorri para tentar equilibrar-me. Para tentar alcançar este meu objectivo de ter um corpo incrível e deixar de ser uma debulhadora ambulante.
Sempre que ia a um nutricionista novo eu dizia: “Este é o último a que vou, agora é de vez”. Entrava na consulta muito esperançosa, contava a minha história e faziam-se as devidas medições. Era-me passado um plano e eu saia do consultório com a certeza que agora era de vez. E os primeiros tempos eram incríveis. Eu andava ali certinha, retomava os treinos, o corpo começava a mudar. Eu ficava ainda mais feliz e durante uns meses andava focada. Os planos alimentares que me passavam efectivamente funcionavam até deixarem de funcionar. Ou seja, até eu escorregar uma ou duas vezes e começar a descarregar as minhas frustrações na comida. E aí, em vez de retomar o plano, sentia que precisava de uma nova mudança e o jogo começava.
Olhando para trás eu noto que andei muito tempo da minha vida às voltas sem sair efectivamente do sítio.
Tudo porque eu não entendia que independentemente de ter o melhor plano alimentar do mundo, mais do que tratar do físico eu precisava de tratar a cabeça e da forma como encarava a comida e o treino na minha vida. Porque a verdade é que eu sempre fui de extremos. Comia e treinava muito focada. Ou desatava a comer tudo o que me aparecia à frente e deixava de treinar porque ficava desmotivada com as minhas falhas. E quando isto acontecia, por mais que eu quisesse voltar ao plano antigo já não conseguia e procurava um novo nutricionista na esperança que isto acabasse.
O engraçado é que eu recebo muitas mensagens de pessoas exactamente com o mesmo problema. Que saltam de nutricionista em nutricionista na esperança de encontrarem a resposta final, para um problema que precisa de ser tratado de forma holística. E acima de tudo de dentro para fora. Porque mais do que um plano alimentar, eu precisava de entender que a comida é algo que fará parte da minha vida para sempre. E por isso tenho de ser responsável pelas minhas escolhas, sejam elas boas e más.
Porque no fundo, por melhor que o plano seja.
Foi a minha força de vontade em tentar mais uma vez que fez com que isto resultasse. Foi a minha força de vontade em querer finalmente aprender a lidar com a comida de uma forma racional que fez com que eu encontrasse o meu equilíbrio alimentar. E a força de vontade tem de vir cá de dentro. Tem de vir com dor, com angustia e com muito desejo de mudar. Mesmo que se saiba que se vai cair algumas vezes.
Tem acima de tudo de vir com a certeza que um plano alimentar serve para te guiar. Um nutricionista serve para te ensinar a comer mas no fim, és tu e só tu a responsável pelas tuas escolhas.