Um mês
Faz exactamente hoje um mês que não tenho compulsões. Um mês inteirinho em que não enfiei a cara num qualquer pacote de galetes e só terminei quando lhe vi o fim, e isto é coisa para me deixar para lá de orgulhosa comigo.
Tenho seguido o plano que a nutricionista me passou, não a 100% porque fiz anos a semana passada e uma pessoa acaba sempre por comer uma ou outra coisa por fora, mas neste mês senti que racionalizei muito mais as coisas e isso ajudou-me bastante a não me espalhar ao comprido no que toca a comida.
Lembro-me perfeitamente da minha última crise compulsiva, tinha regressado há pouco tempo da Tailândia, estava cheia de Jet Lag e com saudades dele que tinha ficado a kms de distância. Este regressar à realidade, perceber que só estaríamos juntos novamente dali a um mês depois de umas férias maravilhosas, mais entrar na rotina normal criou-me uma crise de ansiedade tão grande que fui a correr para a despensa a ver o que por lá havia.
Na minha cabeça eu queria gelados e bolos, eu queria pizza e um grande crepe com chocolate mas como não tinha nada disso cá por casa, despachei um pacote de galetes de arroz em menos de 20 minutos. Terminei o pacote senti-me mal comigo mesma mas continuava com uma fome doentia que tomava conta de toda a minha pessoa, sentei-me no sofá para ver um filme e a cabeça continuava a pensar em comida, cada vez mais e cada vez mais rápido.
Decidi que tinha de me ocupar e resolvi sair de casa porque tinha de ir fazer compras, faltavam-me legumes e fruta em casa e fui ao supermercado, logicamente foi a pior coisa que podia ter feito, porque ir às compras com fome só pode dar patetice, e aqui não foi excepção.
Comprei o que precisava, legumes, frutas, e frutos secos, aproveitei também para repor o stock das galetes que tinha destruído há pouco tempo e pelo meio vieram dois folhados de legumes, e uma fatia de salame de chocolate. Lembro-me de estar na caixa a olhar para as minhas compras e sentir que aquilo não fazia sentido, aqueles produtos misturados com todos os outros que pertenciam à minha rotina saudável estavam a mais, no entanto na minha cabeça eu só pensava” oh dias não são dias, estou a queimar os últimos dias de férias”.
Fui para casa e entre o caminho do supermercado e a minha casa que são 10 minutos de carro comi todo um pacote de frutos secos. Comecei a comer os cajus, primeiro três, depois cinco, depois uma mão cheia e dizia a mim mesma que era a última vez e continuei, continuei até acabar o pacote.
Cheguei a casa, fiz um chá e acompanhei com os dois folhados de legumes, depois disso comi o salame de chocolate e mais duas galetes com manteiga de amêndoa e no fim senti-me a pior pessoa do mundo. Fui até ao espelho, olhei para mim e vi-me totalmente disforme, na minha cabeça depois daquela crise eu tinha regressado ao meu peso de adolescente e comecei a chorar muito, para além disso estava tão mal disposta que só me apetecia vomitar, mas o medo de poder regressar à bulimia com que lutei na minha adolescência deixou-me ficar quieta a lutar contra aqueles sentimentos.
No dia a seguir logo cedo, fui à primeira consulta com a nutricionista e cheguei até ela um verdadeiro caos, eu estava muito triste comigo e sobretudo estava tão envergonhada que praticamente me custava a falar. Sentia-me frustrada e ela teve de arrancar de mim quase a ferros todas as informações, ao final de duas horas de consulta ela disse-me que eu iria fazer duas coisas, comer extremamente devagar e pousar os talheres várias vezes, mesmo que isso implique que tenha de terminar a refeição muito depois do resto das pessoas e apontar num diário todos os sentimentos que eu tenho sempre que como e em que situações específicas esses sentimentos aconteceram.
Passou um mês desde que este episódio compulsivo aconteceu, eu fui fazendo o que ela me pediu e já percebi que os fins de semana para mim apesar de serem sinónimo de descanso me provocam muitos sentimentos complexos e muitos apetites. Não cedi a nenhum capricho alimentar mas sinto que ainda não é uma coisa natural e que tenho de fazer um esforço para me mentalizar que não posso deixar a minha mente levar a melhor, porque no fundo a fome que eu tenho é emocional e é essa que preciso controlar.
Apesar de ter tido um bom mês, sei que estou muito no início e que há muito trabalho a fazer, especialmente no medo que eu tenho de falhar e associar isso a “perdido por 100 perdido por 1000”, mas hoje ao final de um mês sei que estou bem mais perto do que estava naquela tarde de Julho.
Flicker
Tem orgulho em ti!
lollytasteblogvania
Flicker🙂
Dianinha Gomes
sabes Vânia dou-te os parabéns por teres a coragem de falar sobre estes assuntos que acredito afectarem tantas mulheres mas que poucas ousam admitir. É importante porque cada vez mais se vêm perfis de pessoas todas fitness, a comer super bem, e acredito que muitas delas não mostram o que realmente sentem, ou que não comem sempre bem e isso pode criar falsas espectativas em quem não consegue levar uma vida 100% saudável. Antigamente falava-se muito que as revistas transmitiam imagens de modelos anoréticas que davam ilusões a muitas meninas hoje em dia com esta onda fitness acho que estamos no mesmo nível e é importante que bloggers como tu tenham a coragem para admitir que nem tudo é perfeito e que às vezes as coisas correm mal. Obrigada a sério.
lollytasteblogvania
Dianinha Gomesquerida Diana, muito obrigada pelo teu comentário deixaste-me mesmo sem palavras. No fundo todos somos humanos e todos falhamos e eu só quis assumir isso 🙂 Obrigada por todo o teu carinho.
beijinhos