Um desabafo sentido sobre isto de querer encaixar
Eu passei muito tempo da minha vida a querer encaixar. Quando penso nos bons anos que já tenho em cima entendo que grande parte deles foram assim, a querer encaixar num qualquer molde que eu achava que era o correcto e talvez o maior deles tenha sido o achar que para ser feliz e bem sucedida tinha de ser magra, sem nenhuma ponta de celulite, sem nenhuma gordurinha visivel. E sim este desejo de encaixar num padrão que eu ditava como objectivo para me sentir completa e feliz fez com que eu desenvolvesse uma série de comportamentos doentios com a comida e a minha imagem, mas não foi o único e nem muito menos foi uma coisa que só aconteceu lá atrás quando eu sofria de um distúrbio alimentar.
A verdade é que dei por mim a chegar à conclusão que este desejo de querer encaixar em outros padrões andou bem junto de mim até há relativamente pouco tempo e é engraçado que cheguei a esta conclusão depois de sair da minha prática de yoga de manhã e ir a caminho de casa com a música “I don’t care” do Ed Sheran a passar na rádio. E foi quando ouvi: “Don’t think I fit in at this party, everyone’s got so much to say, yeah. I always feel like I’m nobody, who wants to fit in anyway?” que efectivamente me apercebi deste meu comportamento.
Uma das coisas que eu já vos disse muitas vezes por aqui é que sempre fui muito insegura,
Insegura comigo própria, insegura em mandar para o mundo coisas que eu até gostaria de criar porque acho sempre que existem mil pessoas melhores do que eu e insegura com a imagem que posso estar a passar. Mas o que talvez nunca vos tenha dito é que esta insegurança se reflectiu durante grande parte da minha vida e até há bem pouco tempo numa necessidade de fazer com que as pessoas gostassem de mim e acima de tudo de agradar o mais possível aos outros.
E isto, esta insegurança que sempre me acompanhou acabava muitas vezes por me deixar doente devido à expectativa que eu colocava sobre o que as pessoas pensariam de mim. “Será que gostaram de mim?” “Será que correspondi à expectativa? ” estes e outros pensamentos sempre me assolaram muito e talvez por isso falar em público sempre foi uma coisa complicada para mim. E sim, eu sei que quem já me viu em alguma palestra me diz que eu estou muito bem e que tenho talento para a coisa, mas a verdade, a mais pura das verdades é que sempre que o tinha de fazer o medo de ser uma desilusão profunda para os outros me acompanhava nos dias antes e no momento de encarar pessoas a olharem para mim. Sim eu disfarço bem, mas acreditem que isto é verdade.
Ora depois de ouvir o excerto daquela música, percebi que nos últimos dois anos dei por mim muitas vezes a manter este padrão de querer encaixar numa imagem, num grupo ou em formas de pensar que não eram aquilo que o meu coração verdadeiramente queria e tudo isto com o único intuito de fazer com que gostassem de mim e olhassem para mim com alguém válido fosse em que assunto fosse. E esta necessidade de validação, corroeu-me muito durante bastante tempo, esta necessidade de validação fez com que me crucificasse sempre que percebia que não havia “match” entre mim e outras pessoas. Porque sim, apesar de podermos estar em grupos com interesses semelhantes não significa que tenhamos quimica com todas as pessoas e durante muito tempo eu sempre achei que isto acontecia porque a culpa era minha, porque não era suficientemente interessante, ou inteligente, ou não tivesse nada de espectacular para dar a quem me conhecia.
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Corresponder às expectativas dos outros sempre fez parte do meu perfil
E esta necessidade que eu incutia em mim fez com que me anulasse muitas vezes, fez com que fosse a locais ou eventos que não queria ir, fez com que abafasse a minha verdadeira personalidade em determinadas ocasiões para poder corresponder a uma imagem que eu achava que era a certa para determinado momento e fez acima de tudo com que me sentisse muito deslocada em certas situações.
E o engraçado é que eu tinha perfeita consciência disto sabem? Mas nesta coisa da saúde mental e dos distúrbios alimentares há coisas que por mais curadas que estejam ainda deixam marcas e esta necessidade de procurar ser perfeita aos olhos dos outros é algo que está muito agarrado a este tipo de doenças e é exactamente por isso que eu digo muitas vezes que isto de nos curarmos é um trabalho para a vida. O meu deixou há muito tempo de ser a relação que tinha com o meu corpo para ser o eliminar esta crença que tenho de encaixar em grupos, pessoas ou formas de pensar só porque todos estão a ir para aquele lado.
E talvez tenha sido esta tomada de consciência que me aconteceu no início deste ano que me fez questionar muita coisa virtual que consumia, que me fez tornar muito mais critica com determinadas pessoas, comportamentos e formas de estar, não porque elas estejam erradas mas sim porque eu me estava a tentar adaptar a algo ou alguém só porque sim. E este meu comportamento é algo que vejo diariamente por essas redes fora. As pessoas estão tão sedentas de encontrarem o seu próposito, de se tornaram uma inspiração e de mostrarem que também são especiais que se anulam por completo em prol de ideias pré-concebidas do que devemos fazer ou ser para alcançar determinada coisas.
E perguntam vocês porque raio escrevi eu isto?
Porque sou humana, e porque quando me dão os parabéns por toda a paz que conquistei, quando me pedem dicas de como alcançar o equilíbrio e quando me dizem que sou uma inspiração eu tenho momentos em que me sinto uma espécie de fraude porque na verdade às vezes também ando aqui a tentar encaixar em determinados padrões. Mas depois lembro-me que aquilo que vos faz voltar a este cantinho e a falar comigo sempre foi a forma crua com que falei de tudo o que vivi – e-vivo – e apesar de ser mais fácil dar-vos uma lista com x passos para serem felizes, ou para encontrarem o equilíbrio eu prefiro escrever-vos desta forma, com um nó na garganta onde assumo que também eu muitas vezes não sei bem o que ando cá a fazer. E está tudo bem.
Inês Espada Nobre
bolas, fizeste-me chorar… tudo aquilo que sabemos ser verdade dentro de nós e nos é tão difícil de expor… estas crenças que nos amarram ao chão e nos prendem o voo…
Obrigada por esta partilha tão honesta.
vânia duarte
Inês Espada NobreOh Inês fico feliz que tenhas gostado do meu texto 🙂 muito grata pelo teu carinho