Quando a disciplina se torna escravatura
Dizem-nos que temos de cuidar mais de nós, que temos de fazer exercício físico e comer de forma saudável. Dizem-nos que alimentos comer, os mesmos que daqui a uns tempos já não são assim tão saudáveis. Mostram-nos uma nova dieta, aquela que agora é o que está a dar e nós acreditamos que é a cortar tudo ou só a comer determinadas coisas é que iremos ser felizes.
Dizem-nos diariamente que a felicidade está ali tão próxima mas que precisas de te regrar, precisas de disciplina porque só assim conseguirás alcançar o que desejas. Mas a única coisa que não te dizem é que quando não entendes que na maior parte dos casos é a tua cabeça que tem de mudar primeiro, a disciplina passa facilmente a escravatura. E as idas ao ginásio passam a ser obrigatórias sem espaço para falhas e quando as há, um abismo de dramas e de pensamentos negros sobre seres fraca inunda a tua cabeça.
E de repente o comer deixa de ser algo prazeroso para ser algo metódico onde tudo o que seja sair da rotina cria uma enorme ansiedade.
E aos poucos aquela mudança de vida que tanto desejamos torna-se algo penoso, torna-se uma obsessão doentia onde se vive constantemente no 8 ou 80 e onde não há espaço para viver ali no meio, onde se aceita que nem sempre é possível prever tudo.
Eu vivi escrava de mim, da minha imagem, de uma alimentação completamente imaculada e do ginásio durante muito tempo. Preferia dizer que era disciplinada e era por isso que tinha resultados, mas a verdade é que os resultados físicos surgiam porque uma mente doente e completamente obcecada não se permitia sair um milímetro que fosse do plano, porque se isso acontecia significava que a seguir viria uma compulsão. “Se já comi um chocolate então agora posso comer o que quiser”. Reconheces este comportamento?
Era este o padrão, foi este o comportamento que me levou a sofrer de compulsão alimentar durant anos, porque aquilo a que eu chamava de disciplina era simplesmente escravatura em busca de um corpo e de um número que eu achava que me iria fazer feliz. E se eu não cumpria o plano alimentar ou de treino a 100% todos os dias da minha vida então significava que mais valia comer tudo o que queria porque o “estrago” estava feito. Mas o problema nem sempre foi o corpo, o problema na maior parte das vezes foi a minha cabeça que é o calcanhar de aquiles de muitas pessoas.
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E dou por mim muitas vezes a tentar explicar a quem me contacta
Que não há mal em faltar a um treino e não há mal em sair para jantar com amigos. Nada disto significa que tens de abandonar a tua rotina, ou tens de achar que não consegues ter resulatdos. Porque comer de forma saudável e fazer exercício tem de fazer parte da nossa vida de forma natural e não ser a nossa vida.
Ter disciplina é saber que se te dedicares a algo com alma e coração consegues chegar aos teus objectivos, e acima de tudo que precisas de trabalhar para conseguires o que queres mas que também precisas de celebrar as tuas conquistas e que há espaço para tudo. Ser escravo é não ouvires quando o teu corpo te pede para parar, é não ouvires quando a tua alma te diz que está cansada, é acreditares que quando paras deitas para o ar todo o caminho que já percorreste, é viver ali, entre uma vida extremamente exemplar e um completo descontrolo. É não ser feliz.
Carolayne Ramos
Sabes, ainda hoje de manhã, enquanto descascava os ovos para o meu pequeno-almoço, repeti para mim mesma de que algo que me ajudou a gostar de comer sem me sentir na obrigação de medir, pesar, controlar tudo foi ter desconstruído todas as ideias que deixei integrar em mim, ao longo do meu processo de mudança e reeducação alimentar. Não é por acaso que, atualmente, afirmo não fazer dietas e sim reeducações, pois, agora entendo a diferença e o impacto que isso exerce no meu psicológico. Há dias em que me apetece alimentar como normalmente faço – resultado da minha mudança e trabalho mental, e que tem vindo a resultar bastante bem -, há outros em que prefiro simplificar ainda mais, como o caso de hoje, e sinto-me bem. Sinto-me feliz e motivada para continuar neste processo de crescimento e evolução, tanto psicológico, quanto espiritual e físico. Quando nos predispomos a mudar as nossas ideologias e pré-conceitos, fica tudo tão mais leve, a nossa bagagem se livra de imensa tralha e a nossa visão se amplifica, daí a importância, como bem afirmas, de prestarmos atenção à nossa mente e ao seu poder inerente! E, se tivermos quem nos ajudar e escutar, a caminhada ganha cor e as trocas energéticas se tornam ainda mais especiais!