Porque perder peso é muito mais do que fechar a boca
Há uma coisa muito engraçada nisto de se perder peso e de se encarar a alimentação de uma forma racional e que é: As pessoas têm sempre alguma opinião para dar, especialmente quando não a pedes.
Há muitos anos atrás, quando eu tinha excesso de peso e comecei a travar uma longa luta com a Bulimia, uma pessoa disse-me que se eu queria emagrecer tinha de fechar a boca. Assim a seco e de forma matemática. Fechava a boca e todo o meu peso se evaporava como por magia. Anos mais tarde, quando comecei a lidar com a minha forma irracional de comer voltei a ouvir exactamente a mesma coisa. Que tinha de fechar a boca. E não ter porcarias em casa. Também ajudava.
E eu acho que efectivamente as pessoas não fazem por mal
Pelo menos algumas, porque outras eu sei que gostam de humilhar quem sofre de problemas de comportamento alimentar. Mas infelizmente isto de emagrecer e de deixar de comer com o coração não é assim tão simples. E não é porque acima de tudo na maior parte das vezes, perder peso é um processo muito mais emocional do que racional. Uma dos conselhos que sempre me custou muito ouvir, era o de não ter tentações em casa. Já repararam que a maior parte dos artigos que costumam sair com dicas para emagrecer abordam isto? “Não tenha bolachas nem chocolates em casa”. E ok, a pessoa não tem.
A pessoa porta-se bem e não compra nada disso. Muito pelo contrário a pessoa compra broculos, e aveia, e bananas, e um monte de coisas verdes para a ajudar. E cumpre tudo à risca mas… Ninguém te explica que mais do que não teres coisas em casa, tens que ter capacidade para lutar quando a vontade de comer estas coisas te surge e tu dás por ti a ir à rua de propósito para comer. Porque sim, comer tal como qualquer droga vicia e a comida está à disposição de quem quer.
Nesta minha luta para perder peso e lidar com a compulsão alimentar
Eu fiz muitas vezes aquilo que me diziam, a sério que sim. “Não tenhas tentações em casa”. Então, comia na rua. Comia antes de ir para casa. Comia depois a escola e depois do trabalho. Comia tudo o que queria e depois ia para casa e ou fechava a boca e comia só alface, cenoura e uma proteína. Ou mandava tudo para fora. A verdade é que eu sempre gostei de comer, foi exactamente por isso que desenvolvi uma Bulimia. Para mim era muito mais fácil comer compulsivamente e deitar fora do que estar horas sem comer.
Mas, ao longo da minha vida fiz muitas dietas. E fiz dietas para perder peso, onde efectivamente tinha de fechar a boca e comer pouco. Porque é isso que te é vendido. Queres perder peso então, não comas hidratos. Não comas depois das 18. Não comas muita fruta. Não comas gluten. Não comas lactose. A vida alimentar de quem não se entende com a comida e de quem quer perder peso varia entre – não comas isto e fecha a boca.
O grande problema destes conselhos é que são inúteis tal como a maior parte das dietas.
Porque funcionam como pensos rápidos. Que servem para tapar uma ferida, mas não a curam. Não a tratam como ela realmente precisa. Entender a comida como algo normal na nossa vida é acima de tudo um jogo mental e racional. Perder peso e comer sem compulsão acaba por ser um acto de racionalizar as nossas ações. É questionar porque estamos a fazer aquilo. Se é por gula se é por fome. E mesmo que isto vos pareça demasiado mecânico, garanto-vos que é efectivamente o caminho para um equilíbrio físico e mental. Mais do que fechar a boca ou não comprar tentações para casa é o chip da tua cabeça que tens de mudar. É a forma emocional como lidas com a comida e com as dietas.
Porque garanto-te que não vale a pena fechar a boca se continuas a encarar a comida e a saúde como sazonal. Se continuas a fazer promessas ano após ano de mudança só a pensar no Verão e acima de tudo se continuas a fazer as coisas somente pelos outros e não por ti.
É a cabeça que tens de mudar. É com o teu interior que tens de lidar. É efectivamente a cura interior que tens de procurar.
E isto da cura interior acaba por ser nada mais nada menos do que aprenderes a lidar com as tuas emoções. De falares sobre elas. De as assumires verdadeiramente, para ti e para os outros. E de quereres mesmo mudar. E para fazeres isto, mais do que fechares a boca, tens que a abrir. Abrir muito e deitares cá para fora tudo o que te vai na alma.
Ana Garcês
Obrigada, Vânia por escreveres as coisas como elas são e \”desmitificares\” muitas situações que as pessoas já têm como normal mas que, com um bocadinho de cabeça, chegamos à conclusão que não é bem assim.
Se quisermos ser saudáveis temos de ter um equilíbrio connosco primeiro antes de tentarmos fazer o que quer que seja!
Um beijinho!
Carolayne Ramos
Que texto, Vânia! Relacionei-me com cada palavra e sinto que estas poderiam ter sido as minhas reflexões e partilhas! Muito obrigada por isto, de verdade!
vânia duarte
Carolayne Ramosobrigada eu por me leres e por sentires o que escrevo 🙂