Ode aos meus 33 anos de vida
fotografia tirada por Margarida Pestana
Fecha os olhos. O dia de amanhã será melhor. Amanhã serás finalmente tudo aquilo que sonhaste. Mais bonita, mais perfeita, mais magra. Fecha os olhos. Limpa as lágrimas de desilusão para contigo própria e espera pelo amanhã. Fecha os olhos, porque o amanhã será melhor.
Esta foi provavelmente uma das maiores crenças com que vivi 15 anos, que o amanhã fosse ele quando tivesse de ser seria muito melhor do que hoje. Que no amanhã eu seria muito mais feliz e muito mais completa do que era hoje. E vivi assim de olhos fechados durante muitos anos. Sem me ver por completo, sem me olhar com olhos de ver. Vivi essencialmente com um filtro de muito ódio, desilusão e uma grande frustração que me fizeram durante anos a fio olhar para este corpo como o pior corpo do mundo.
Eu mudei muito ao longo dos anos essa é que é a verdade.
Passei de ter 75 kilos para ter 47 para depois entrar na obsessão doentia dos 50 kilos. Passei de vestir um 46 para vestir um 34. Passei de muito para pouco ao longo de 15 anos, e tanto num extremo como noutro eu nunca fui realmente feliz, porque aos meus olhos eu continuava a ser um fracasso. Porque aos meus olhos nenhum esforço era suficiente.
E quando olho para trás percebo que foram demasiados anos de olhos fechados, a ansiar por um amanhã que desse certo, por uma resolução de ano novo que finalmente corresse bem, ou uma resolução de verão, ou de pós férias. Eu tentei muito e falhei muito. De todas as vezes que caí eu voltei a tentar mesmo que não acreditasse que podia dar certo. Mesmo que no meu intimo eu achasse que nunca iria ter paz comigo ou com a comida eu continuava a tentar. O que me motivava? Durante anos eu achei que a minha motivação era ter um corpo perfeito. Um corpo de rede social para que todos aplaudissem o quanto eu tinha conseguido.
Hoje em dia que estou com os olhos mais abertos do que nunca eu percebo que eu tentei, tentei mesmo muito porque no fundo eu estava cansada de lutar contra mim mesma, no fundo eu queria simplesmente entregar as armas e dizer já chega. E foi exactamente neste dia em que eu percebi que aquilo que eu sempre procurei não foi um corpo de sonho mas sim paz, que se deu a minha última tentativa que permanece até hoje.
E nisto de tentar e cair e tentar outra vez até dar certo, há várias pessoas que me perguntam como se faz.
Como se chega aqui a este estado de amor para comigo. E eu por mais que tente ajudar, percebo cada vez mais que esta é uma luta tão pessoal que é impossível prescrever algo como sendo garantido. Porque as nossas dores são diferentes logo os nossos acordares também o serão. Mas uma coisa eu sei e posso garantir, ninguém se ama todos os dias e é neste aceitar que a nossa perfeição reside também em sentimentos menos bonitos que está o equilíbrio. Eu não me amo todos os dias. Mas amo-me cada vez mais para saber que não quero voltar a viver em função de um espelho, de um número ou de um qualquer parâmetro que dita o que são corpos de bikini ou não. Eu não me amo todos os dias. Mas amo-me o suficiente para saber que a beleza que eu celebro hoje é fruto de muitos anos em guerra e que um corpo em permanente guerra é um corpo doente.
E ao chegar justamente hoje aos 33 anos, dou-me conta que nunca tive tão em paz comigo, com o espelho e com a minha cabeça como estou hoje. E é uma paz que arrepia sabem? É uma paz que me é tão desconhecida que eu dou por mim a querer agarrá-la com toda a força com medo que me seja retirada. É uma paz que me permite entender que dias maus fazem parte, mas que não são suficientemente fortes para me fazer querer voltar a onde estava há 10 anos atrás – com a cabeça enfiada na sanita.
É provável que isto que vos vou dizer agora seja um qualquer cliché manhoso
Mas aos 33 anos eu sinto-me mais bonita, mais segura, mais completa e mais poderosa do que alguma vez me senti quando tinha 20. Talvez porque há 10 anos atrás eu queria esconder-me. Queria desaparecer do mundo e só aparecer quando aos olhos do mundo eu estivesse bem. E hoje com mais 10 anos em cima, eu só me quero celebrar, retirando camadas de medos, angustias e frustrações e deixar cada poro desta pele respirar, porque aos meus olhos – os únicos que interessam – eu sou suficiente e tão única.
E é por isso que todos os dias – mesmo naqueles menos bons – eu procuro alguma coisa em mim que me agrade e foco-me nela. E percebo que de cada vez que faço isto eu volto a nascer. E nasço mais forte, mais capaz e mais segura e isto basta-me para saber que aos 33 anos posso finalmente largar as armas e desfrutar da paz que é viver em pleno com o meu corpo e com a minha alma.
Parabéns a mim.
Joana Sousa
Tão bom ler isto 🙂 muitos parabéns, Vânia, pelo aniversário e pela tua evolução. Pela paz que alcanças todos os dias, passo a passo. Um beijo!
vânia duarte
Joana Sousaquerida Joana, muito obrigada pelo teu carinho. um grande beijinho
Ana Machado
Olá Vânia
Já li alguns dos seus posts e sigo a página no facebook. Identifico-me imenso nas suas palavras. Vivi cerca de 12 anos com alguns quilos a mais e também passei momentos maus e momentos péssimos. Também ouvi palavras odiosas contra uma criança gordinha, palavras essas que muitas vezes vinham de adultos. Também vivi nos dois extremos e não era feliz em nenhum deles. Também caí e errei muitas vezes, odiei-me e tive nojo do meu próprio corpo.
Hoje tenho 23 anos. Não sou perfeita. Estudo nutrição e é isso que quero transmitir a quem me vier pedir ajuda: equilibrio do corpo e da mente.
Desejo um feliz aniversário e muita paz no coração 🌹
vânia duarte
Ana MachadoAprender com os erros e usá-los como conhecimento para ajudar outras pessoas, é sem dúvida a melhor forma de conseguirmos pegar em coisas más que nos aconteceram e torná-las boas 🙂 Boa sorte no seu caminho. beijinho grande
Andreia Fernandes
OBRIGADA por esta partilha.
A paz que procuro a tantas anos e que e tao bem descrita neste post.
vânia duarte
Andreia Fernandesawwww 🙂 obrigada eu pelo carinho.
Andreia Moita
Muitos parabéns a ti mesmo. Pelo aniversário e um bocadinho mais pela história de coragem, pela pessoa que és, pela vontade de superação e mais e mais mais.
Beijinhos
vânia duarte
Andreia MoitaObrigada minha querida Andreia por tanto carinho <3 Sou muito grata por ter ter encontrado 🙂