Glúten e Lactose – Vilões da alimentação saudável ou moda alimentar
Eu vou confessar-vos muito abertamente: Sim eu já fui muito, mas muito extremista no que toca à alimentação e ao exercício. No que toca ao glúten, à lactose e a uma série de alimentos. E não o digo com orgulho nem com vergonha. Foi uma fase – que durou mais tempo do que eu esperava sim – mas que acabou por ajudar-me a chegar ao equilíbrio onde estou hoje.
A primeira vez que fui a uma nutricionista foi exactamente aqui. Tinha feito uma avaliação no ginásio e tinha-me assustado com a percentagem de massa gorda que existia neste meu corpinho. O engraçado é que já andava nesse ginásio há um ano quando fiz esta avaliação. Ia lá, fazia as minhas aulas de grupo, não sabia o que era proteína ou intolerâncias alimentares. E na realidade nem sequer levava o ginásio muito a sério.
Comecei então a seguir um plano alimentar, que me ajudou muito, a encontrar os melhores alimentos para me manter saciada durante o dia, e evitar crises de gula, que sempre foram uma constante na minha vida. Nesse mesmo momento acabei também, por me dedicar mais à musculação e menos às aulas de grupo. Tive efectivamente resultados muito positivos com esta mudança. Passei a interessar-me cada vez mais por toda esta área da alimentação saudável e exercício. Lia muitos artigos, comecei a seguir imensas contas de fitness de miúdas com corpos esculturais e algures aqui pelo meio tornei-me fundamentalista de algumas coisas.
A verdade é que em muito pouco tempo eu passei da miúda que pouco ou nada ligava ao ginásio, para a miúda que não faltava a um treino mesmo que o corpo doesse horrores. Passei da miúda que adorava aulas de grupo, para a miúda que gozava com quem fazia estas mesmas aulas, porque a musculação é que fazia bem. E passei da miúda que não percebia nada de alimentação, para a miúda que passou a ser intolerante ao gluten e à lactose, porque leu em algum lado que estes alimentos faziam mal.
Entretanto vocês sabem o que aconteceu aqui pelo meio. Eu fiquei doente com uma dieta palerma. Acabei no hospital. E foi depois deste episódio que decidi curar de vez a minha relação com a comida. Com o meu corpo e com a forma obsessiva como eu encarava o exercício. Este é um caminho que comecei a percorrer há um ano e meio, que teve muitos altos e baixos, mas que me tem mostrado que isto de comer bem nos dias de hoje, não é nada fácil.
E não o é porque hoje em dia todos sabem de tudo. Há demasiada informação dúbia. Há dietas milagrosas todos os dias. E há cada vez mais promessas que o problema está, em consumir certo tipo de alimentos, e que se os eliminarmos, a nossa vida muda. E é aqui que entram as intolerâncias.
De repente um monte de pessoas que sempre comeu pão é intolerante ao glúten.
De repente a aveia que há uns 2 anos era a rainha da vida saudável tornou-se uma bruxa má porque tem glúten. De repente pessoas que sempre comeram o seu iogurte, agora já não o podem fazer porque passam muito mal com a lactose. E o goji, a chia e todos uns mil e um super alimentos passam a fazer parte do cardápio, porque são saudáveis.
É engraçado isto da alimentação. É engraçado como facilmente nos deixamos levar pelas modas e pela cabeça dos outros. É engraçado acima de tudo, como hoje em dia se passa do 8 ao 80 muito rápido. Há uns tempos atrás comprámos cá para casa uma torradeira. E ele começou a fazer torradas e perguntou-me se eu queria. Eu disse que não. Porque o pão que tínhamos em casa era daquele super normal. Com farinha refinada, cheio de glúten e de outras coisas tão “más”, que assustam qualquer pessoa defensora de uma vida saudável.
E enquanto ele comia as suas torradas com manteiga eu dei a mim própria uma chapada mental. Porque estava ali, a olhar para as torradas dele, com vontade de comer e não comia porque na minha cabeça aquilo fazia mal. E percebi que efectivamente este caminho de criar uma melhor relação com a comida apesar de bem oleado ainda é longo.
Eu sempre gostei de torradas com manteiga. Em miúda comia muitas.
Demasiadas até e exactamente por isso é que tinha excesso de peso. Porque comia muito de muita coisa. Não era porque de vez em quando comia umas torradinhas. Era porque comia todos os dias demasiadas coisas. E foi aqui que percebi o quanto estava a ser idiota. Sim o pão que ele tinha comprado não era o Santo Graal da saúde, mas eu não o como todos os dias portanto que mal havia em comer aquelas torradas com um bocado de manteiga sem culpa? O mal estava na minha cabeça formatada por demasiada informação que não nos deixa acima de tudo ouvir o nosso corpo.
E é isto que me incomoda hoje em dia nas modas alimentares. As guerras que se travam com os alimentos. O passar a chamar a comida de boa e má, saudável ou lixo quando existem milhares de pessoas a morrer à fome no dia de hoje. O nosso problema nos dias de hoje é o excesso de tudo. O excesso de informação. O excesso de opinião. O excesso de querer comer tudo o que vemos os outros comer. Só porque alguém diz que aquilo é o correcto.
E é neste excesso que reside o problema. Porque o gluten ou a lactose são tão vilões como o excesso de chia, spirulina ou de outro super-alimento qualquer. O problema é que os super-alimentos estão na moda e o glúten não. Ninguém se preocupa no impacto que o excesso de spirulina pode ter no corpo. É verde, os influenciadores do mundo saudável tomam então é porque é bom. Agora basta alguém dizer que a aveia é má porque tem glúten e de repente já ninguém come aveia de manhã – isto é verídico anda uma guerra contra a aveia meio estranha.
Comer hoje em dia é um puzzle.
Deixou de ser uma coisa simples. Que se faz com prazer, para ser algo programado até à última grama. Com imensas restrições e acima de tudo com medos. Há cada vez mais pessoas com fobia da comida. Cada vez mais pessoas que não sabem o que comer. Porque todos os dias alguém tem uma nova teoria sobre um determinado alimento. De repente comer deixou de ser algo natural e passou a vir com um manual de instruções.
Mais do que darem ouvidos a um qualquer influenciador oiçam o vosso corpo. Sintam aquilo que vos pede. Aprendam a distinguir fome de gula e acima de tudo aprendam a ter uma boa relação com os alimentos. E se de vez em quando o vosso corpo vos pedir umas torradas com manteiga ou um iogurte comam. Porque só vivem uma vez e porque não vão morrer. Porque o chamado equilíbrio que tanto se fala hoje em dia começa, por escutarem mais o vosso corpo e menos o que as modas vos dizem.
Joana Sousa
OBRIGADA por este post, Vânia! Acho que vou imprimir e entregar a umas quantas pessoas que conheço lol
Jiji
vânia duarte
Joana Sousaahahhahahahahah obrigada joana linda 🙂
António Ferreira
\”… últimO grama.\”
António Ferreira
\”As heresias de hoje serão as verdades de amanhã.\” Não sei quem disse isto, mas parece ser a mais pura das verdades – especialmente em áreas muito escorregadias, como a nutrição humana, dado que cada corpo é único, e que o alimento de uma pessoa é o veneno de outra. Não será já na minha vida que verei médicos a receitaram, em pílulas, toucinho de porco preto e, em pílulas maiores, vinho tinto de qualidade, para tomar, sem falta n vezes ao dia – mas é isso que vai acontecer! Há umas décadas, os peixes ditos \”reimosos\” (sardinha, cavala) eram, pelos médicos, totalmente desaconselhados: além de serem tidos por indigestos, eram também muito agressivos para a \”figadeira\”. Hoje é o que se sabe.
A manteiga (a autêntica, a genuína) sofreu tratos de polé. Está totalmente reabilitada e até inspira t-shirts (\”Keep calm and eat butter\”) e dietas cetogénicas (Atkins e outras). E o mesmo vale para o secular bacon… E para os ovos.
O \”mestre da banda\” é o metabolismo de cada um: se hipotónico (acelerado, muito acelerado), pode-se comer o que se quiser, nas quantidades que se quiser; se hipertónico (lento, muito lento), está-se condenado a engordar, mesmo comendo-se uma ou duas tímidas folhas de alface a acompanhar uma posta de peixe cozido. Por isso o \”Nós somos o que comemos\”, de Hipócrates, só em pequena parte é verdadeiro.
Minha boa amiga, faça da refeição um momento de prazer. Mande a contagem das calorias às malvas. Coma comida. Sem qualquer sentimento de culpa, alegre aos olhos e agradável ao gosto e olfacto , o menos industrializada/processada possível e produzida o mais perto de si.
Continue a escrever. É um prazer lê-la.
Cumprimentos.
vânia duarte
António Ferreirasem dúvida antónio que cada vez mais fica provado que os mitos de hoje são as verdades de amanhã e o melhor caminho a tomar é comer com consciência e ouvir o nosso corpo o melhor que conseguimos. obrigada pelo teu comentário