Eu também desmotivo e admitir isto é amor próprio
Pode ser estranho falar de desmotivação e de amor próprio no mesmo post não achas?
Mas é exactamente para quebrar um bocadinho com muitas ideias sobre amor-próprio que hoje vou abrir o meu coração para ti.
Porque escrever faz-me bem. E porque gosto sempre de ser sincera com quem passa por aqui. E a verdade é que se gosto de te motivar a procurares estar em paz contigo. Por outro lado gosto de mostrar que o equilíbrio que alcancei não me torna nenhuma super-humana e que tal como tu, eu também desmotivo.
Já falei aqui no blogue que tenho uma lesão no joelho esquerdo.
Uma lesão muito chata. Que foi feita no final de 2015 e que só comecei a tratar em Junho deste ano. Para além de ser uma lesão de recuperação muito lenta é num joelho que já foi operado há alguns anos e portanto acaba por ser tudo muito mais demorado. Ter esta lesão e assumir para mim que precisava de me tratar como deve ser fez com que tivesse de reduzir os meus treinos, ou melhor adaptar.
E é verdade que eu até acabei por lidar bem com isto, assumi que mais do que treinar, o importante neste momento é eu estar com saúde e se para isso tivesse de deixar de fazer algumas coisas assim iria ser. E foi na verdade. Não faço um agachamento profundo há 2 meses. Não salto para uma caixa ou à corda exactamente há 2 meses e as cargas com que trabalho hoje em dia são menos de metade daquilo que conseguia. Por outro lado comecei a ter mais tempo para trabalhar a parte superior do meu corpo, para me dedicar aos pinos e rumar ao meu objectivo de conseguir andar somente com as mãos apoiadas no chão.
Tal como escrevi aqui, efectivamente eu reprogramei a minha mente e tenho vindo a descobrir capacidades incríveis mas… eu sou humana e apesar de toda a positividade com que quero e tenho encarado esta lesão eu também desmotivo.
E desmotivei a meio do mês de Agosto.
Tive uns dias incríveis na Zambujeira para descansar antes das férias que vou ter no final de Setembro e quando regressei vinha com energias renovadas. Entretanto regressei à fisioterapia, tive muitas dores, tive sessões bastante complicadas e desmotivei.
A verdade é que não me apetecia treinar. Não tinha vontade, não tinha energia e portanto assumi para mim mesma que em vez de stressar com esta desmotivação, a iria aceitar.
Decidi simplesmente ficar, ver e não fazer absolutamente nada. Deixar as coisas seguirem o rumo natural. Sempre em mente que mais do que fazer coisas obrigada ou porque vais engordar 300 kilos se não o fizeres, há certas alturas em que o que precisas é simplesmente dar tempo para voltares a sentir falta.
E foi exactamente isso que fiz. Assumi para mim que não estava a treinar com alma e não me preocupei. Não me preocupei se iria ou não engordar, não me preocupei com o tempo que esta desmotivação iria levar a passar, porque acima de tudo eu sabia que treinar faz parte de mim portanto mais cedo ou mais tarde a vontade iria voltar.
E é importante dizer-te isto. Porque uma das coisas que não quero é que se comece a achar que amor próprio é andarmos para aqui todos contentes e felizes connosco e com o mundo como se não existissem problemas. Não quero que penses que sou todos os dias feliz. E acabes por te sentir uma nulidade, porque há dias em que simplesmente estás mais em baixo ou não te achas a última coca-cola do deserto.
Eu sei que hoje em dia todos falam de amor próprio
Todos falam sobre a importância de nos adorarmos com todas as forças. De olharmos para nós e sermos capazes de nos aceitar. Mas aquilo que mais tenho medo é que de repente se ache, que amor próprio é estar feliz todos os dias da vida. Ou camuflar sentimentos, quando não é.
Porque ninguém está feliz todos os dias da vida e ninguém tem vidas perfeitas. A maioria das pessoas não tem a casa sempre impecavelmente arrumada prontinha para ir para o Instagram. Ninguém acorda todos os dias com uma disposição absolutamente maravilhosa e pronta para conquistar o mundo. E acima de tudo ninguém gosta de si própria todos os dias da vida e isto é OK.
Porque perfeição existe nas redes sociais onde tu escolhes aquilo que publicas, onde filtras exactamente aquilo que queres mostrar, mas tu enquanto ser-humano és completa e como tal ter dias menos bons é normal.
Acima de tudo amor próprio é sentir.
É rir, é chorar, é aceitar que é ok desmotivar desde que não te deixes levar pelo buraco. E por mais que te digam que tens de te animar, que tudo vai correr bem, às vezes aquilo que precisas é simplesmente deixares-te estar. Sem pensares que és fraca porque hoje te olhaste ao espelho e não gostaste do que viste. Ou porque estás há semanas sem treinar porque não te apetece.
Uma das coisas que sinto ultimamente é uma grande pressão para sermos felizes. Sempre. Sempre bem dispostos. Sempre contentes. Sempre a espalhar amor, magia e luzes brilhantes. E caramba se às vezes esta propaganda da felicidade total não parece saída de um filme do pequeno pónei.
É óptimo estarmos felizes, completos e serenos.
É óptimo olharmos para nós com olhos de amor. E conseguirmos lidar com o nosso corpo sem neuras. Mas o que quero que percebas é que sentir o oposto de vez em quando não está errado. Não és menos do que ninguém por isso entendes?
A questão aqui passa mais pelo que tu escolhes fazer com as fases menos boas que te surgem na vida ou com sentimento negativos. Deixas de treinar e achas que por causa disso podes atirar-te à comida como bem te apetece? Isso sim está errado, entrar pelo caminho das punições e compensações. Tu podes ter fases menos boas, mas isso não significa que tenhas de tratar mal o teu corpo e a tua alma entendes?
O que acabou por me acontecer foi, que eu desmotivei por estar com uma lesão que obviamente não queria ter e me fez abrandar nos objectivos de treino, e eu senti que precisava efectivamente de parar e respirar fundo, mas continuei a comer tranquilamente e sem excessos e sabendo que o bichinho havia de voltar.
E voltou ontem à noite.
Olhei para o saco de treino e senti saudades da box. Preparei todas as marmitas e o saco com o equipamento. Coloquei o relógio a despertar para as 06.05 – e caramba o que me custou a acordar – e fui treinar. E apesar das limitações treinei com o coração. E terminei com a sensação que finalmente estava novamente em mim. Mesmo que continue sem puder fazer um agachamento.
A minha vida não é perfeita. Eu não sou diferente nem mais feliz do que tu. Simplesmente aprendi e aprendo todos os dias que o nosso corpo é o nosso melhor médico. E se ele efectivamente nos diz que não quer fazer uma coisa, a nossa obrigação é dar-lhe ouvidos. Porque mais cedo ou mais tarde ele voltará a dizer-te quando está pronto para regressar.
E isto sim é verdadeiro amor próprio.
Kéké
Ser feliz é aceitar os dias menos bons e saber que são só isso mesmo: dias menos bons. Amor próprio é também saber aceitar as limitações do nosso corpo, saber dar-lhe o descanso que precisa quando ele nos pede. Mas não é andar por aí a usar uma máscara que não nos pertence e seguir a corrente. Ser feliz é ser-se puro, com os sentimentos à flor da pele e dar valor às pequenas coisas, à vida, ao nosso corpo. É uma questão de atitude, brio, força e vontade.
E tu, meu amor, és tudo isso e és uma inspiração diária para mim <3 Obrigada por entrares na minha vida e me dares a mão nesta caminhada. Porque juntas somos mesmo mais fortes!
vânia duarte
Kékécaminhar ao teu lado tem sido uma aprendizagem 🙂 tu és incrível 🙂
Mundos Mudos
Obrigada por este texto. Obrigada por transmitires de uma maneira simples e sem rodeios a realidade que todos deveríamos aceitar e parar de esconder. Estou a passar uma fase de desmotivação e tal como falas, não a estou a tentar contrariar.. porque tenho a certeza que mais dia menos dia o meu corpo e a minha mente me voltam a pedir aquilo que realmente lhes faz falta! Tenho pena de não ter conhecido o teu blog há mais tempo.
vânia duarte
Mundos Mudosoh 🙂 que comentário bom, obrigada pelo carinho 🙂 e é mesmo isso às vezes o segredo é somente deixar estar, o corpo sabe quando é hora de voltar 🙂
Rafaela Monteiro
Adoro a tua good vibe. Adoro as tuas palavras. Inspiraste neste texto!
Beijinhos
vânia duarte
Rafaela Monteiroobrigada 🙂