A razão porque deixei o ginásio e não quero voltar
Há 1 ano e meio deixei o ginásio. Deixei a realidade de treino que tive na maior parte da minha vida. Continuei a treinar na praia com os Outsiders Gym, com quem treino desde 2015 e inscrevi-me numa box de Crossfit. Apaixonei-me pelo crossfit, mas tive de o deixar de lado este ano por causa da minha lesão no joelho e passei a dedicar-me de coração aos treinos na praia.
São treinos que me desafiam todos os dias. Onde trabalho áreas do meu corpo que nunca pensei trabalhar. Onde faço coisas que nunca em outro lugar onde já treinei pensei fazer. E é engraçado ver várias pessoas a perguntarem-me qual é o segredo para treinar com a garra que treino, todos os dias faça frio ou calor, chuva ou sol. A minha resposta acaba por ser sempre a mesma: – Venham treinar comigo no sítio mágico que é a praia e com este grupo incrível e percebem – atenção estou mesmo a convidar-vos heim 🙂
Ora há uns tempos atrás recebi uma mensagem de uma menina a querer saber mais sobre os meus treinos na praia. Eu expliquei como tudo funcionava e ela disse que adorava experimentar mas tinha medo de deixar o ginásio e não alcançar os resultados que queria. Trocámos mais algumas mensagens e eu percebi que ela já não ia ao ginásio há 3 meses porque se sentia frustrada e desmotivada, mas tinha medo de experimentar outras coisas, porque todas as miúdas que conhecia com corpos “fit” andam no ginásio.
E chegamos então à razão porque eu deixei o ginásio para sempre.
Eu comecei a frequentar ginásios algures com 21 anos. Nada muito sério é um facto. Ia lá umas vezes, corria um bocado, levantava uns pesos – poucos – fazia umas aulas e estava feito. O ginásio para mim ao início era uma forma de ganhar créditos para poder comer mais. Simples assim.
Entretanto os anos passaram, e em 2012, inscrevi-me num ginásio grande e em bom. Andei lá um ano sem ligar patavina aquilo, até que em 2013 depois de fazer uma avaliação o jogo mudou. Procurei ajuda nutricional, comecei a ser mais regular no ginásio e aos poucos o meu corpo mudou e tornou-se mais saudável. Com a minha evolução, passei a estar mais desperta para tudo o que estivesse ligado ao mundo fitness.
Passei de treinar com uma t-shirt manhosa e umas calças deslavadas para todo um guarda-roupa incrível de treino. Passei de alguém que nunca pegava num peso, para uma aficcionada da musculação. Passei de alguém que achava que a proteína em pó era algo perigoso para tomar vários suplementos ao dia. Passei de uma miúda que não sabia o que era a massa gorda para me tornar verdadeiramente obcecada pela balança do ginásio que me dizia todos os números.
Estive 4 anos neste ginásio. E nos últimos 2 anos fiquei doente exactamente por lá andar.
Treinar começou a ser uma obsessão para mim. Eu passava horas no ginásio, 7 dias por semana à procura do corpo perfeito. Quando não estava no ginásio estava no Instagram a seguir imensas raparigas que também treinavam no ginásio. A tentar perceber o que faziam elas de diferente para serem perfeitas e eu não.
Passei a estar mais sensível aos corpos das mulheres no ginásio. Passei a querer saber mais sobre dietas de culturistas para secar. Fiz uma dessas dietas. Alcancei um corpo incrível e fiquei doente. E foi ao chegar aqui que percebi que aquilo se tinha tornado um sítio tóxico na minha vida. Deixou de ser um sítio onde eu ia com prazer para aliviar o stress, para uma obrigação que eu tinha na vida à qual eu não podia faltar ou ficaria gorda para sempre. E foi quando me apercebi disto depois de estar numa cama de hospital que resolvi deixar o ginásio.
Tomar esta decisão não foi fácil.
Afinal de contas era a realidade que eu conhecia. E na verdade era também a mais prática. E eu acredito que seja exactamente por isso que a maioria das pessoas anda em ginásios – porque são práticos. Porque existem em todo o lado. Porque estão cheios de opções para todos os gostos.
E realmente isto não é mau. Porque consegues ter num único local diferentes formas de treinar que se adaptam a todos os gostos. A questão aqui é que há uma grande fatia de pessoas que anda em ginásios e é infeliz.
Quantas pessoas conheces que pagam ginásios e não colocam lá os pés há meses? Será que tudo isto se resume a falta de motivação? Ou são os próprios ginásios também culpados por isto? Porque se interessam mais em encher cada vez mais, do que tentar saber o que podem fazer mais especificamente por aquela pessoa? Porque naturalmente existe uma seleção entre “os fixes e os bombados do ginásio” que recebem toda atenção versus aquela pessoa que não faz a mínima ideia do que seja proteína e quer continuar assim?
Eu escolhi deixar o ginásio por não me sentir feliz
De repente tudo me incomodava. As pessoas. As luzes artificiais. A música alta. O olhar à volta e sentir que estava ali cada um por si. Centrado na sua própria imagem corporal. E escolhi experimentar modalidades novas, fora de um ginásio para descobrir algo que me apaixonasse. E é aqui que as pessoas falham. Porque se agarram à coisa mais prática – ginásio – mas nem sempre o mais prático é o melhor para nós.
Porque o que nos é vendido hoje em dia é que para teres um corpo de sonho tens de treinar até cair. Ou tens de fazer musculação mesmo que odeies. E as pessoas fazem-no infelizes e é por isso que tanta gente não consegue ser regular no exercício. Não porque seja preguiçosa, mas porque está a fazer algo contrariada.
A questão é que há tanta oferta maravilhosa que é uma estupidez andar-se num ginásio contrariado
Há mil grupos de treino outdoor espalhados pelo país fora – dei-te sugestões de alguns grupos neste post – . Há um crescente interesse em modalidades como o Yoga e o Pilates que bem executados, deixam-te tão de rastos como um qualquer outro treino. Há pessoas que são felizes a nadar. Há gente que ama dançar. Ou correr. Ou fazer triatlo – está super na moda agora – Há sim quem descubra que afinal o Crossfit muda vidas. Por isso, se há tanta oferta porque continuar infeliz num sítio só porque a maioria o faz. Só porque é prático?
Treinar é incrível. E não o digo para parecer bem.
Digo-o porque é verdade. Quando encontras uma modalidade que realmente te apaixona, treinar torna-se algo tão normal na tua vida como comer, dormir e beber. Torna-se vital para o teu bem estar físico e emocional. Mas para chegares aqui tens de experimentar. Tens de encontrar a tua grande motivação.
E se ela for Zumba ou outra aula qualquer, não tens de ter vergonha de o fazer, só porque a maioria das pessoas levanta ferro. Da mesma forma que se efectivamente for no ginásio que te sentes preenchida continua. Mas continua por ti. Não há certo e errado nisto dos gostos. Tens acima de tudo de ser feliz, porque estás a cuidar de ti com amor e não por obrigação.
E se tiveres de mudar, uma e outra vez muda. Muda até encontrares algo que faça efectivamente o teu coração pulsar. E aí, vais efectivamente perceber porque é que eu acordo todos os dias cedo, mesmo com 6 graus para treinar na praia. Porque sou feliz.
Marta Moura
Ainda bem que conseguiste lidar com isso da melhor forma.
vânia duarte
Marta Mouraobrigada 🙂
Claudia - Mulher XL
Não tenho nada contra ginásios, mas lá está, acho que estimulam (à semelhança de outras coisas como a comunicação social) a que as pessoas façam esforços não humanos para ter o \”corpo perfeito\”, como dizes.
Acho a história toda do \”corpo perfeito\” ridículo, pois o importante é ser saudável.
O \”fit\” está na moda e há muita gente que o faz por isso mesmo, só.
Acho um disparate os ginásios, ainda por cima caríssimos, quando se pode fazer os mais variados exercícios em casa e ao ar livre.
O melhor para mim, e mais completo, é mesmo a natação 🙂
Claudia
vânia duarte
Claudia – Mulher XLE no fundo é exactamente isto que é importante, encontrar o melhor e mais completo para nós, seres individuais com características únicas e que devemos respeitar 🙂
Susana
Muito bom!
Obrigada por esta partilha! 🙂
vânia duarte
Susanaobrigada eu por me leres 🙂
Joana Sousa
Também andei um ano no ginásio com o mesmo propósito com que tu entraste – ganhar créditos para comer lol e acabei por sair de lá, confesso, não só mas também porque me sentia um bocadinho mal ao ver-me \”gordita\” e lingrinhas à beira de quem lá estava. Tinha vergonha da minha nabice e não era a minha cena, pronto.
É refrescante ler-te, acima de tudo porque tens a sobriedade de admitir os erros que cometeste e de perceber qual foi o caminho que fizeste, sem floreados. E isso é tão, tão bom! E de repente fiquei com vontade de me deixar de vergonhas e ir procurar umas aulas de dança que me esfolem viva… 🙂
vânia duarte
Joana Sousa\”fiquei com vontade de me deixar de vergonhas e ir procurar umas aulas de dança que me esfolem viva… 🙂\” então vai mulher, se é isso que faz o teu coração pulsar 🙂 E obrigada pelo teu comentário, fico sempre sem jeito. Mas a verdade é que eu acabei por entender que nao tenho de me envergonhar de nenhuma falha do meu passado. Pois cada uma delas acabou por me guiar a onde estou hoje 🙂 beijo gigante joaninha 🙂
Mel
Hello.
Estou precisamente na fase entre ter deixado o ginásio desde Agosto (por causa de uma pequena lesão) e voltar ao ginásio em Janeiro. Vi-me muito neste texto e reparei um bocado tarde em todos os comportamentos tóxicos. Já faço ginásio há bastante tempo, e quando ingressei num ginásio novo, adorava… nunca estive tão activa na vida, surpreendi-me a mim mesma mas sabia que estava lá pelo objectivo errado e aos poucos ir ao ginásio começou a ser tóxico… de tal maneira que quando deixei não senti saudades nenhumas, como agora. Sinto apenas saudades de ser fisicamente mais ágil e activa. Sei que home workouts não funcionam lá muito bem para mim e não tenho muitas opções por onde moro… vou voltar ao ginásio em Janeiro mas sei que desta vez não irei com o mesmo objectivo… irei com outro mindset. Espero que resulte.
vânia duarte
MelTenho a certeza que vai resultar porque lá está o mindset é outro e quando assim é as coisas acabam por correr bem 🙂 E sou como tu treinar em casa também não é para mim, fico muito preguiçosa 🙂 beijinhos
Maria
Estive inscrita num ginásio +/- durante uns 3 anos. De início ia mais regularmente, mas depois comecei a focar-me mais nas aulas de grupo. Até que chegou a um ponto em que dava desculpas a mim mesma por numa semana não ter ido uma única vez, depois lá ia 3x na semana seguinte.
A verdade é que deixei o ginásio quando me apercebi realmente que ODIAVA aquilo, odiava e odeio aquele ambiente, detesto sentir-me observada pelos homens no ginásio (claro que eles não olham só para mim, eles basicamente olham para todas as mulheres o que me fazia sentir super constrangida), não gosto do ambiente de engate que existe em muitos ginásios e que está mais ou menos à vista de qualquer pessoa que por lá ande.
Assumindo isto , inscrevi-me num centro de Yoga que, curiosamente, é ao lado do ginásio onde eu nunca ia por 1001 razões/desculpas e faço yoga certinha 2x por semana.
Há empatia, proximidade e cumplicidade entre a professora e nós praticantes sem julgamentos, competições, sem engates manhosos.
Por isso hoje digo que ginásios para mim não dão, não dão mesmo. Acho ótimo as pessoas irem, mas para mim não dá.
vânia duarte
MariaÉ tão importante ouvirmos mesmo aquilo que o nosso corpo nos diz e seguir a nossa intuição 🙂 Há tantas modalidades que fazer uma coisa só porque a maioria faz é super cruel para connosco 🙂 Fico mesmo feliz que tenhas encontrado alegria no Yoga, também adoro.