Coragem para pedir ajuda | Desafio 1+3
Ter coragem para pedir ajuda, tão simples de falar, tão complicado de executar. E não falo daqueles pedidos de ajuda quando estamos a mudar de casa e dá-nos jeito uma mãozinha de uns amigos, mas sim daqueles pedidos de ajuda que são soltos, já em desespero. Falo-vos acima de tudo, de ter coragem para admitir que não se consegue ultrapassar um determinado problema sozinha.
E para mim, quando penso neste assunto vem-me à memória o ano de 2016
Em que dei por mim novamente doente, aos 30 anos mais uma vez por causa de uma obsessão doentia para alcançar uma determinada imagem corporal. Ora até chegar aqui a este ponto, foram várias as pessoas que já me alertavam para o meu aspecto doente e cansado, mas na minha cabeça todas elas sem excepção estavam preocupadas sem razão e não conseguiam entender este meu desejo de ter um corpo de sonho. E durante alguns meses eu consegui convencer-me disto, que eram os outros que estavam errados e não eu.
Até que, quando comecei a ficar cansada de comer sempre a mesma coisa e comecei a sentir um medo terrível de ir comer fora porque não podia pesar as quantidades que comia as coisas começaram a complicar-se para o meu lado. O pânico de perder o controlo da minha alimentação aumentou muito o que acabou por fazer com que efectivamente eu perdesse mesmo o controlo e tivesse grandes crises compulsivas com a comida. E isto tornou-se uma bola de neve gigante, onde eu pesava à grama tudo o que comia, onde eu restringia o mais que podia, para depois não aguentar e ceder às emoções de um corpo completamente cansado. E aqui, nestes momentos em que estava sozinha com as minhas emoções, eu queria verdadeiramente ajuda, eu queria que alguém me obrigasse a parar e acima de tudo eu queria que alguém tomasse essa decisão por mim.
E porquê? Porque ter coragem para admitir que se precisa de ajuda para um problema que já dura há 15 anos é muito duro.
Quando eu acabei por ficar doente novamente e fui parar ao hospital a meio de 2016 e descobri o que tinha feito ao meu corpo eu senti a maior vergonha da minha vida. Estar ali, naquele ponto de obsessão que já durava 15 anos abalou-me muito e admitir que aos 30 anos eu precisava novamente de ajuda para sair do buraco que me tinha enfiado foi provavelmente dos maiores actos de coragem que já tive.
Porque tive de admitir que errei, ou melhor tive que admitir que passei 15 anos a errar e a ignorar todas as pessoas que realmente me amam. E acima de tudo, porque tive de admitir que mesmo tendo 30 anos, não conseguia sair deste buraco sozinha. Despir-me de tudo aquilo que me vinha a acompanhar durante tantos anos, mostrar-me vulnerável e acreditar que só com ajuda é que eu conseguiria melhorar foi um grande acto de coragem meu. E nessa altura, eu nem sonhava o que esse pedido de ajuda que acabou por se tornar o último me iria trazer. Nessa altura, eu não imaginava que passados 2 anos iria estar onde estou eu, a viver uma relação de verdadeira paz e amor comigo e com este corpo. Este local onde estou hoje era algo para mim utópico que se foi revelando à medida que eu me fui curando.
E é por isso que quando recebo mensagens de pessoas a pedirem-me conselhos
Para lidarem com determinado distúrbio sem envolverem a família com medo de os magoar, eu digo sempre que não dá. Porque este caminho é duro, este caminho é tortuoso e vais sempre precisar de todo o apoio possível seja da família, médicos ou psicólogos para te darem a mão quando tu achares que nada disto vale a pena ( e acontece muitas vezes).
E acima de tudo, porque apesar de nós pensarmos que ninguém se apercebe, as pessoas que nos amam mesmo, aquelas verdadeiras – não as de instagram que metem like na nossa foto e aplaudem progressos sem saberem do que se passa por trás – falo-te daquelas que te veem dia após dia a destruíres-te… essas pessoas já estão magoadas por te verem assim, e admitires que não consegues sair disto sozinha não é magoar quem te ama, é sim, trazer esperança para os dois lados.
Este post faz parte do Desafio 1+3 criado pela Carolina do blogue Thriteen. Todos os meses a Carolina lança temas e cada um pode escrever sobre o tema que quiser. Este é um desafio aberto, e também tu podes participar, basta enviares um email à Carolina. Conto contigo?
Rita L
Carolina Obrigada.
Obrigada por esta exposiçao tao clara de, um problema de saude que se trata, e que afecta tantas pessoas em silencio durante anos.
Obrigada tambem pela mensagem de que, a vida nao uma soma de sucessos, estao la sim, entre as quedas!
E sem duvida o apoio incondicional da familia e de todos os verdadeiros amigos, forma a terapia adjuvante para restabelecer o equilibrio e a paz, tao essencial na nossa vida.
vânia duarte
Rita LRita muito obrigada pelo carinho 🙂 Sem dúvida que fazer este caminho sozinho é muito complicado e pedir ajuda é fundamental para se conseguir encontrar acima de tudo paz interior. Só uma pequena anotação eu não me chamo Carolina mas sim Vânia 🙂
Cláudia
\”E aqui, nestes momentos em que estava sozinha com as minhas emoções, eu queria verdadeiramente ajuda, eu queria que alguém me obrigasse a parar e acima de tudo eu queria que alguém tomasse essa decisão por mim.\” Esta frase resume tudo! Cada vez tenho uma maior perceção de que não nos conhecemos a nós próprios. Estamos de tal forma rodeados de ruído – pessoas, trabalho, rotina – que quando somos confrontados com as nossas emoções, não nos conhecemos o suficiente para saber lidar com elas. Tal como tu, o meu cérebro aprendeu a associar comida com segurança e prazer, assim que encher a barriga até não poder mais se transformou num mecanismo de defesa para evitar a negatividade que, por vezes, me assola; a mim, e a qualquer pessoa. Porém, e estando eu no caminho da recuperação, uma das perguntas que mais me assalta a mente é \”queres, sincermente, ver-te livre da compulsão?\”; tenho muito medo da resposta, e, é aqui que entra a parte de desejar que alguém tome uma decisão por mim, o que tornaria tudo mais simples mas que não é possivel. Admiro a tua segurança, e espero também eu de um dia alcança-la, para responder com um grande \”sim\” à minha questão. Um beijinho amiga 🙂
vânia duarte
Cláudiaquerida Cláudia, sabes também eu durante muitos anos me coloquei essa questão do querer verdadeiramente ver-me livre da compulsão, porque a verdade é que apesar de tudo era um terreno que eu já conhecia, e aprender a viver sem isto às vezes mostrava-se muito mais complicado do que comer imenso e depois estar não sei quanto tempo em restrição. Acabamos por habituar-nos a esta vida não é? Mas decidir que não queria viver mais assim foi a melhor coisa que me aconteceu e tenho a certeza que tu também irás conseguir. Um grande beijinho e força