Dia Mundial do Yoga com review de 1 ano de Ashtanga
Quando penso nas voltas que eu e o Yoga demos ao longos dos últimos anos, não posso deixar de acreditar que efectivamente as coisas acontecem quando realmente precisam de acontecer e por mais que queiramos ter mão em muitas delas, há algumas que estão destinadas a acontecer quando menos esperamos. E penso que esta seja a melhor forma para descrever a minha relação com o Yoga.
O Yoga entrou na minha vida em 2014 por sugestão da minha médica como forma de conseguir regular a minha ansiedade e eu que me fascinava bastante com todas as posturas lindas e difíceis que via na internet resolvi experimentar. Na primeira escola onde estive fiquei um mês, a verdade é que havia qualquer coisa no professor que não me fazia adorar a prática e eu desisti ao final desse tempo, passando para outra escola onde estive até ao final de 2017 de forma bastante intermitente, com épocas em que praticava muito e outras épocas onde ficava mais de 6 meses sem lá por os pés. A verdade é que eu obrigava-me a ir porque sabia que me fazia bem, mas apesar de lá estar fisicamente foram raros os momentos em que lá estive por inteiro, a minha cabeça voava por mil coisas e muitas delas eram o focar-me em querer fazer posturas complicadas e não conseguir.
No final de 2017 arrumei o Yoga na minha vida
E disse para mim mesma que o Yoga não era para mim e que estava tudo bem, afinal de contas não temos todos de gostar do mesmo certo? Assim este assunto esteve totalmente fora da minha mente até Junho de 2018 onde uma colega de trabalho que praticava me convidou para ir experimentar. Eu na altura disse-lhe que talvez, mas depois andei a adiar, lembro-me até de marcar uma aula experimental e inventar uma desculpa qualquer para não ir. Ela continuou a insistir que eu precisava de ir, porque o Ashtanga era diferente, porque o professor era mesmo boa pessoa e muito interessado por todos os alunos e eu acabei por ir única e exclusivamente para lhe fazer a vontade. Na verdade na minha cabeça, eu só fui para lhe poder dizer “pronto já fui, não gostei, o Yoga não é para mim, assunto arrumado”.
Acontece que eu fui, conheci o Ashtanga Yoga Carcavelos, conheci aquela prática diferente onde cada aluno está a praticar ao seu ritmo, conheci o tal professor que guia cada aluno com um cuidado impressionante e a estranheza daquela prática que me invadiu nos primeiros 2 minutos em que vi cada pessoa a fazer uma coisa diferente deu lugar a um “vou-me inscrever” no final. O que aconteceu aqui pelo meio eu só acabei por perceber muito tempo depois.
A minha relação com o Ashtanga começou devagar
Passou de “nunca vou decorar esta sequência” para um até gosto disto, mas acima de tudo o Ashtanga trouxe-me disciplina e foco e isso acabou por me trazer uma coisa muito maior e que só recentemente percebi que foi um retornar a casa, à casa que é este corpo que eu tenho e com o qual sempre vivi muito desconectada. E isto aconteceu porque pela primeira vez em 5 anos eu percebi o propósito de praticar Yoga.
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Sejamos sinceros a grande maioria das pessoas começa a praticar Yoga porque se encanta com as posturas e não vale a pena negar porque eu própria o fiz. O Yoga que nos é vendido é aquele dos ásanas incríveis, das fotos maravilhosas em Bali a fazer um Handstand ou com uma perna atrás da cabeça, e nós queremos isso, nós queremos aquelas posturas, aquelas fotos porque o nosso ego gosta dessa validação. Pelo menos o meu gostava. Ora a razão de eu nunca me ter entregue verdadeiramente ao Yoga sempre passou exactamente por isto, por querer mais e mais posturas complicadas e acima de tudo por não saber desfrutar das pequenas coisas que ia conquistando, para mim sempre que alcançava uma postura eu queria a próxima, porque a próxima certamente seria mais cool.
Mas eis que tenho a sorte de cruzar o caminho com um professor
Que quer acima de tudo que eu respire, que acredita verdadeiramente que o Yoga é mesmo para todos, gordos, magros, velhos, novos, pretos, amarelos, brancos, às bolinhas, flexíveis ou barras de ferro, saudáveis ou doentes, com experiência ou sem experiência, com seguidores no Instagram ou sem saber ligar um computador. Aquele professor mais do que ensinar posturas bonitas quer ensinar pessoas comuns a perceberem que a maior dádiva da nossa vida é efectivamente parar e respirar e talvez tenha sido por isso que assim sem ele ou eu darmos conta o Ashtanga acabou mesmo por mudar a minha vida e a forma como passei a respeitar o meu corpo.
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Porque para mim tudo sempre se baseou em algo físico, e ao longo deste ano acabei por aprender às vezes de forma dura no meu tapete que o corpo é realmente o nosso melhor conselheiro e se há dias em que ele responde bem há outros em que não vai responder e nós temos de praticar da mesma forma. E isto, este mexer com o ego que esta prática me trouxe não foi sempre fácil, acreditem que tive momentos bem obscuros a praticar Yoga – um deles aconteceu recentemente, onde eu só queria fugir do tapete e da prática, mas são estes momentos mais sombra aliados aos momentos em que eu e o meu tapete somos um, que foram despindo aos poucos as minhas crenças sobre o que é um corpo de yoga, ou uma pessoa zen.
E isto fez-me perceber que o Yoga não se trata de falar com uma voz calma
Não se trata de dizer Namasté a cada pessoa com quem te cruzas, nem se trata de usar roupas com padrões cool, tapetes da moda, e muito menos se trata de quem tira as fotos com as posturas mais incríveis, trata-se sim de te permitires regressar a ti e de abraçares as tuas qualidades e os teus defeitos por inteiro. Trata-se de entender que nem sempre estamos felizes e contentes e que mesmo assim o Yoga aceita-nos seja em que mood for. Trata-se sobretudo de respirar.
Um ano depois, não há dia que não agradeça ter ido de arrasto para o Ashtanga Yoga Carcavelos, sem saber que aquele dia iria marcar o início de algo muito bonito na minha vida: a aceitação total deste meu corpo, o libertar-me de muitas crenças que me faziam acreditar que eu não era feita para o Yoga e a descoberta de uma prática que espero levar para a vida pelas mãos de um ser humano incrível. Obrigada Nuno. Obrigada Ashtanga Yoga Carcavelos.
Posto isto, venham experimentar, há sempre espaço para receber o vosso tapete 🙂
Feliz Dia Mundial do Yoga