Conheces realmente as pessoas que segues nas redes sociais?
Há muito tempo que queria escrever sobre a influência das redes sociais aqui no blogue. Sobre o impacto que elas tiveram na minha vida. E sobre o impacto que eu vejo terem na vida de muitas pessoas. Na verdade eu já abordei um pouco deste tema noutros locais. A Helena Magalhães e o Observador convidaram-me há uns meses para falar sobre a minha história e eu contei o que vivi.
- Histórias de Girl Power – A Força da Vânia
- Solidão na era digital: Nunca estivemos tão conectados e tão sós
E apesar de já ter falado disto, noutros meios decidi que estava na altura de trazer este assunto também para o blogue. E quero esclarecer uma coisa, antes de seguir com este texto.
Eu não sou nenhuma hater das redes sociais
Na realidade isto nem faria grande sentido. Primeiro porque são as redes que me permitem chegar até quem me lê. São as redes que trazem mais pessoas ao Lolly Taste. Que o têm ajudado a crescer nos últimos 2 anos. E são as redes que também já me trouxeram boas pessoas para a minha vida. E em segundo lugar, eu trabalho com redes sociais no meu dia-a-dia. E gosto do que faço. Portanto eu não sou contra as redes sociais, mas sim contra a forma como elas são usadas.
Ora este post, acaba por vir um bocadinho no seguimento, do post que a Catarina Alves de Sousa fez, sobre o filme “Ingrid goes West” e que fala sobre o impacto das redes e dos influenciadores, e sobre muitas mentiras que se criam, para manter toda uma vida incrível. Se não viram o filme e gostavam de saber mais, leiam por favor o post da Catarina.
E onde entra a minha história aqui pelo meio. Afinal de contas eu não persegui nenhuma Instagramer que goste. Nem mudei de casa para me tornar amiga dela, mas…
Eu já criei uma personagem nas redes sociais e ninguém reparou o que se passava verdadeiramente
Como já sabem, no início de 2016 eu comecei uma dieta muito restrita. Decidi que iria ter o melhor corpo de sempre. Que iria ser super seca e definida e comecei a ser acompanhada por uma pessoa que não era nutricionista, mas sim preparador de atletas de culturismo. O meu plano alimentar, era monótono e como já disse acima restrito. Eu tomava muita suplementação e tinha de pesar tudo o que comia. E foi mais ou menos nesta altura que decidi criar a conta de Instagram associada aqui ao blogue – se não me seguem podem fazê-lo clicando aqui @vaniafromlollytaste. Nesta conta eu comecei a colocar os meus treinos. A minha alimentação e todo o meu progresso com esta nova dieta.
Lembro-me de achar a dieta um bocado assustadora. Mas na minha cabeça só existia um mantra na altura – no pain no gain. Se queria ser fit e ter um corpo incrível tinha de me esforçar muito. E foi isso que fiz. E consegui. Em muito pouco tempo o meu corpo secou. Tive uma barriga lisa incrível como nunca tinha tido. E toda eu estava super definida. O meu sonho de corpo perfeito estava a tornar-se real. E partilhava isto. Tirava imensas selfies do meu pós treino. Tirava imensas selfies cheia de orgulho no meu corpo. Partilhava o meu almoço de peixe cozido com bróculos igual ao jantar do dia anterior, e igual ao jantar da outra noite.
E recebia comentários absolutamente maravilhosos
As pessoas gabavam a minha barriga. Elogiavam a minha forma física. O meu foco, a minha disciplina e o meu progresso. Diziam-me que eu era uma inspiração. Que eu era super forte e para eu continuar que estava a ir no bom caminho. As pessoas diziam-me tudo isto mas não sabiam que o “bom caminho” acabaria por me levar para uma cama de hospital algures em Maio.
Para as pessoas que me seguiam eu era uma inspiração. Mas para mim eu era uma falhada, porque não me conseguia ver da forma que elas me viam. Aquela foto que elas tanto gabavam da minha barriga, vinha de um rol de 20 fotos que tinham sido tiradas antes. Porque nunca nenhuma estava suficientemente eprfeita para mim. Para além disso, eu tirava sempre fotos da mesma forma. De lado, com o rabo empinado, uma perna à frente e a encolher a barriga. Porque esta pose me fazia parecer mais magra e com uns abdominais mais definidos. E por isso é que em nenhum momento, iriam encontrar fotos minhas antigas de frente. Porque apesar de todos os comentários maravilhosos sobre a minha barriga a verdade é que eu odiava-a.
Quem me seguia, acabou por seguir uma personagem
Uma personagem que publicava uma foto, recebia comentários incríveis sobre a sua forma física e assim que desligava o telefone, começava a chorar de desespero. Uma personagem que chegou ao ponto de não conseguir comer sem pesar toda e qualquer coisa que lhe entrasse no estômago. Uma personagem que se levantava às 6.00 da manhã, para fazer cardio em jejum até às 07 , depois ia para o ginásio treinar força até às 8.00 e depois ainda fazia mais 45 minutos de cardio. Uma personagem que dizia maravilhas de treinar de manhã mas que chegava ao trabalho esgotada.
Uma personagem que aos poucos se começou a descontrolar e variava entre restrição alimentar severa e compulsão alimentar grave. Uma personagem que acordou a uma segunda-feira para ir trabalhar com uma dor de cabeça chata, mas não ligou. E que esteve assim até quarta, dia em que fui parar ao hospital, com uma anemia grave. Com o ácido úrico muito elevado. E com umas análises renais tão más que chegaram a apontar insuficiência renal.
E tudo isto se passou, enquanto me diziam: “És linda, que corpo incrível”.
Ninguém que me seguia reparou. Ninguém que me seguia se apercebeu do que se passava. E porquê? Porque nenhum de nós conhece verdadeiramente a pessoa que está por trás daquela foto. E apesar das redes sociais quererem passar a ideia de proximidade, a verdade é que nunca estivemos tão desligados como estamos hoje em dia.
Nenhum de nós conhece mesmo a outra pessoa, por mais likes que troquemos e mais comentários que façamos. Nenhum de nós sabe efectivamente se o que aquela pessoa diz é verdade, porque aquilo que é publicado é uma mísera parte da vida da pessoa e muitas vezes a vida que se mostra é mentira – tal como aborda o filme Ingrid Goes West. E é por isso que temos de ter cuidado com a forma como nos deixamos inspirar pelas pessoas na internet.
Quantas vezes não vemos transformações incríveis na internet e pensamos o que está a falhar connosco?
Quantas vezes não comparamos o nosso progresso, com o do outro e achamos que devíamos estar mais focadas? Este é o problema. Achar que algo está errado connosco, porque o outro mostra que é possível lá chegar. Quando na maioria das vezes esse outro não conta verdadeiramente o que fez. Não conta as coisas más pelo que está a passar. Não conta as operações que já fez. E não conta que efectivamente não está feliz, apesar das muitas hastags de #happybodyhappysoul ou #loveyourbody.
Acima de tudo há que entender que sim, as redes sociais foram feitas para mostrar coisas bonitas e é OK isto, se conseguirmos aceitar que aquilo é somente uma parte do que a pessoa quer mostrar. Se há alguém que te motiva a ser melhor, que te transmite paz e que te faz querer mudar, então força. Muda, mas muda sempre com a consciência que vais encontrar dificuldades no teu caminho que são normais, que fazem parte e que não te tornam mais fraca do que a pessoa que te motiva, porque ela também as teve – ou ainda tem e tu não sabes.
E lembra-te sempre que, no final de contas és tu que tens de escrever a tua própria história.
Miguel Oliveira
Sábias palavras! É isto mesmo. Só para rematar aqui fica o meu rescaldo do post:
Sejam vocês e não se comparem! O mundo é um lugar maravilhoso muito devido à diversidade.
E quando estiverem em baixo procurem aqueles que vocês têm total certeza que estarão sempre lá para vos apoiar, porque esses, mesmo que vos tenham que cascar, irão sempre ajudar-vos a levantar 😉
vânia duarte
Miguel Oliveirasem dúvida um dos melhores conselhos de sempre 🙂 obrigada
Daniela Santos
Palavras fantásticas! Nem sabes o up que me deste neste momento, era disto que estava a precisar 😀
Beijinhos,
vânia duarte
Daniela Santosobrigada eu pela tua visita querida Daniela 🙂
Maria
Oi Vânia, descobri-te nem sei como há relativamente pouco tempo.
Gosto muito dos teus posts, da tua lucidez, da tua análise, da tua viagem de vida.
Um grande beijinho e como já alguém disse: Don\’t be afraid of being different. Be afraid of being the same as everybody else.
vânia duarte
MariaOlá Maria. Fico muito feliz por saber que gostas do que partilho 🙂
beijinho grande
Carolina Franco
Tal como publiquei hoje no blog, de nada serve perder peso e estar focada numa dieta restrita e maluca se continuamos a nos sentir mal connosco e não nos vemos ao espelho e amamos o que vemos. É difícil. É claro que sim. Mas essas dietas malucas acabam sempre mal. É incrível! Ótimo post! Que abra os olhos a pessoas que necessitam! Beijinhos
vânia duarte
Carolina Francoé exactamente esse o caminho, falo regularmente sobre isso por aqui, a importância de procurar a cura interior mais do que dietas 🙂 Obrigada pelo teu feedback 🙂 beijinhos
Lara Fonseca
Olá, Vânia.
Um texto maravilhoso, verdadeiro. Mais uma vez revi-me nas tuas palavras, nos sentimentos que partilhaste e este texto vem mesmo a calhar para esta fase de reflexão que estou a viver.
Obrigada
Beijocas
Lara
vânia duarte
Lara FonsecaQuerida Lara, fico muito feliz pelo teu feedback e espero que este texto te ajude nessa nova fase 🙂 beijinhos