Esta fome emocional que te magoa por dentro
Fome emocional….conta-me, porque comes tu?
Tens realmente fome ou será porque tens outra coisa qualquer e não sabes bem o que lhe chamar?
Se não é fome é o quê? Se é fome, é fome de quê?
E porque é que esta fome continua a persistir mesmo depois de almoçares ou lanchares? E porque é que esta fome só te faz desejar bolachas, doces, bolos e não fruta?
Acreditem estas questões sempre foram das que mais invadiram o meu pensamento depois de me render a uma qualquer compulsão. Sempre me questionei porque raio me deixava eu levar por desculpas, fossem elas de estar com a menstruação ou de simplesmente o dia não me ter corrido bem. Qualquer coisa servia para que esta fome emocional tomasse conta de mim.
Eu sou uma pessoa extremamente emotiva. Vivo muito tudo. Sinto muito as coisas e sofro por antecipação. Tenho medo de confrontos e acima de tudo, tenho medoo quando perco o controlo sobre as minhas coisas. É verdade que com o passar dos anos passei a controlar melhor as minhas crises de ansiedade. E que nos últimos meses as minhas compulsões alimentares diminuíram muito. Mas isso não invalida que ás vezes comece a dar por mim a desejar coisas palermas só porque alguma coisa não correu como queria.
Podem achar que é excesso de zelo
Que sou demasiado rígida comigo e que tenho de me permitir certos pecados. Não me interpretem mal porque se há coisa que eu defendo mais do que tudo na vida é equilíbrio. E eu permito-me sair da minha rotina. Mas isto que vos falo não é sobre permitir um ou outro desvio. É comer para alimentar um vazio cá dentro. É comer para nos sentirmos melhor. É comer por recompensa. É comer por qualquer coisa que não sabemos bem o que é. Mas que grita cá dentro para o fazermos. É aquela fome que não nos faz distinguir os limites. É aquela fome que quando termina traz vergonha.
Quantas vezes não comi coisas absurdas e depois escondia as coisas com vergonha que me apanhassem? Eu lembro-me perfeitamente que enquanto me rendia a esta fome emocional pensava para mim que estava a passar dos limites. Mas em vez de lutar contra isto deixava-me ir. Porque naquele momento só a comida me podia salvar da angustia que me levava até ali. Quanto ao depois era só de punição, de tristeza e de vergonha para comigo. De me sentir fraca e de prometer a mim mesma que não o voltava a fazer. Até…acontecer novamente.
Acredito profundamente que é necessário tratar esta fome emocional de dentro para fora
E não o contrário. Acredito que não se trata de começar a fazer uma dieta espectacular que nos leve ao corpo dos nossos sonhos. Mas sim de perceber o que se passa no nosso interior e o que nos leva a ter este tipo de atitudes. Pois só depois de percebermos a causa é que estamos mesmo preparados para mudar o exterior. Podem achar palerma mas acreditem que é verdade. Nenhuma dieta funcionará se não admitirem que comem para controlar emoções. E garanto-vos que há mínima falha na dieta ou quando chegar a uma altura em que o corpo deixa de responder vão esbarrar-se nas emoções novamente. Porque infelizmente nós temos muita tendência para viver entre o 8 ou 80. E quando o interior não está bem resolvido, facilmente passamos de um estado muito bom para um muito mau.
Durante muitos anos eu comi para alimentar os meus medos e frustrações, eu comi por todos os kilos que não perdia e pela barriga que não tinha, comi pelas relações falhadas, pelos dias menos bons ou simplesmente porque estava em casa sem nada para fazer e a melhor forma de ocupar o tempo era comer o que me aparecia pela frente. Olhando para trás, percebo agora que durante muitos anos eu fui refém da comida e fico triste por isso.
Hoje em dia esta fome emocional já não me atinge com tanta regularidade
O que não invalida que não tenha de fazer exercícios mentais de vez em quando para me controlar quando estou numa situação de me deixar levar pelas emoções. Porque sim apesar de agora me sentir mais controlada e serena comigo mesma, eu sei que ainda tenho muito que trabalhar emocionalmente para não deixar as compulsões levarem a melhor. Especialmente quando enfrento fases mais complicadas como a de agora, em que lido com uma lesão que me impede de treinar a 100% e que facilmente mexe com as minhas emoções.
Mas sabem uma coisa? No fundo eu acho que a solução para acabar com esta fome emocional passa por duas coisas.
A primeira é agarrares-te com toda a força à sensação de leveza e equilíbrio que estar longe das compulsões te provoca. É quase como se olhasses para todos os momentos em que a tempestade de comida e o descontrolo estão bem longe, como se fossem a tua tábua de salvação.
A segunda é aquela que mais funciona comigo. É tentar manter bem vivas todas as lembranças e sensações que existem após uma compulsão.
Vocês sabem que o pós de uma compulsão nunca é bonito
Portanto da próxima vez que te fores render à fome emocional, lembra-te de todos os nomes feios que te chamas a ti própria. Lembra-te da sensação de vazio e tristeza. Lembra-te da vergonha que sentes, respira fundo e volta atrás. Se conseguires isto estás um passo mais perto de te libertares desta fome emocional. E garanto-te que não há melhor sensação do que estas pequenas vitórias.
Filipa M.
Minha querida Vânia, é tão importante falar sobre isto e obrigada por estares a faze-lo. Enquanto todas continuarmos a passar por isto por trás de portas fechadas, todas vamos continuar a acreditar que somos as únicas. E isso não é verdade, infelizmente estas situações acontecem com mais frequência do que imaginamos. É tão complicado acabar com este tipo de comportamentos, o que torna ainda mais importante que falemos do assunto e nos ajudemos. É importante que todos saibam que quando isto acontece é porque algo de mais profundo não está bem. Para mim, já lá vão uns largos meses sem episódios de compulsão mas também tenho momentos em que penso nisso e, hoje em dia, esses pensamentos parecem surgir mais por hábito do que realmente por emoções, em situações ou locais que antigamente me levavam a esses comportamentos e que ocasionalmente voltam a abrir a porta do meu cérebro para esse estado. Por isso mesmo sei que não estou livre de voltar a passar pelo mesmo. Também é importante termos alguém com quem falar quando sentimos que estamos a voltar a ser puxadas nessa direção, daí a importância do apoio que damos umas às outras. Porque uma compulsão é sempre uma compulsão e deve ser tratada com cuidado. Obrigada por ajudares a trazer luz sobre este assunto!
vânia duarte
Filipa M.Oh Filipa obrigada pelo carinho. Infelizmente as compulsões alimentares ainda são muito desvalorizadas e a grande parte das pessoas acha que é normal viver assim quando não é. Todos temos dias em que nos apetece comer mais e a diferença está exactamente aqui. Compulsão alimentar não é um episódio de vez em quando é algo que tu perdes o controlo demasiadas vezes. É algo que se torna acima de tudo um vício. E entendo o teu lado de se lembrar de compulsões ao ir a certos sítios. Posso dizer-te que sempre que passo pelo meu antigo ginásio sinto uma ansiedade doentia, mas felizmente tenho-me controlado. obrigada por me leres 🙂
FÁTIMA PINTO nunes
Filipa M.Boas, Grande artigo! Obrigada! 🙂
vânia duarte
FÁTIMA PINTO nunesMuito obrigada Fátima 🙂
Sara Freire
Há quase um ano que não tenho compulsões alimentares, é sem dúvida um esforço interior muito grande mas no fim vale a pena.
Muitos parabéns pelo post. É fundamental as pessoas que sofrem com isto, é e mais comum do que aquilo que elas pensam, saberem que não estão sozinhas nessa luta.
vânia duarte
Sara FreireNão estão mesmo Sara. Infelizmente a problemática das compulsoes alimentares está cada vez maior, muito por culpa da constante pressão para se ter o corpo perfeito. Muitos parabéns pelo seu sucesso 🙂 beijinhos
Susana nunes
Infelismente tambem sofro desse problema que para mim é um enorme problema emocional…
vânia duarte
Susana nunesSe não consegue controlar sozinha procure ajuda susana, não é vergonha nenhuma e pode ser a melhor forma para a susana conseguir viver mais equilibrada. Beijinho
Marisa Rodrigues Reis
Tão importante isto!
vânia duarte
Marisa Rodrigues ReisObrigada 🙂
Miguel Oliveira
A acrescentar só tenho a dizer que para complementar a tua força de vontade, felizmente estás rodeada de pessoas que gostam muito de ti e a vida também é isso, é saberes que quando cais, tens a família e amigos ali ao lado a dizer-te: bora para cima outra vez e desta vez com mais força!
Sandra
Olá!
Acho este tema tão pertinente… só se fala em dietas, emagrecer, etc., etc., mas é realmente das verdadeiras causas de que falta falar… uns mais, outros menos, todos sabemos que engordamos porque comemos mais do que gastamos… por isso acho que quase todas as dietas funcionam…agora, porque não mantemos o peso depois de emagrecer? Porque comemos demais? Tenho uma história de vida cheia de dietas que me permitiram obter o peso desejado; mas porque é que nunca o mantive, mesmo com cirurgia bariátrica? Tenho concluído que está tudo na mente… só lamento ainda não ter encontrado a solução por isso, todos contributos (Como o que li aqui) são importantes…bjs
Vanessa
Adorei ❤️ Parabéns
vânia duarte
VanessaObrigada 🙂
Maggie Silva
Vim cá parar devido ao novo artigo da Helena do \”The Styland\”. Quando vi o titulo deste artigo, pensei que era mesmo o que estava a precisar de ler. Tenho 24 anos, depois de no final do ano de 2016 ter estado com um esgotamento associado ao excesso de trabalho, vi que muitas vezes comia por causa do meu estado emocional. Ora era por chegar a sexta-feira e querer a recompensa de ter conseguido chegar ao final da semana, ora era chegar a casa e comer chocolates porque o dia tinha sido tão stressante e eu merecia aquilo. Desde Maio deste ano que comecei a fazer exercício para ajudar a lidar com o stress e a ansiedade, recentemente parece que o exercício deixou de fazer o efeito desejado e há dias que me vejo novamente a comer pela parte emocional. Para mim nunca foi uma questão de imagem corporal, desde cedo aprendi a aceitar o meu corpo e o meu aspecto, posso dizer que fui daquelas pessoas que a adolescência ajudou e muito. Mas a mente essa é a parte mais difícil…
vânia duarte
Maggie SilvaHá mesmo muitas razões para usarmos a comida como escape, seja pelo físico ou por outra coisa qualquer a verdade é que a fome emocional é muito complicada de conseguir gerir e dá-nos acima de tudo a sensação que será para sempre assim. Mas acredita que é possível mudar a relação que temos com a comida. O passo mais importante é descobrir o porquê de o fazermos e às vezes é preciso ir mais fundo do que pensamos para nos conseguirmos libertar. A psicoterapia ajudou-me muito a entender a minha relação com a comida e deixei de ter compulsões como tinha. O importante a reter seja com psioterapia, hipnose ou outra terapia qualquer é que há sempre solução e viver em compulsão não tem de ser para sempre. um grande beijinho
Catarina
Querida Vânia, já tinha lido este teu texto tão inspirador há um tempo mas só hoje, quando o revi na tua página, senti \’coragem\’ para partilhar a minha experiência menos boa com a comida. Durante toda a minha vida, até aos 26 anos, nunca tive problemas com a comida. Vi algumas amigas sucumbirem a doenças graves, como anorexia e bulimia, o que me fez sofrer imenso ao tentar ajudá-las sem sucesso. Sempre tive uma relação saudável com o meu corpo, até ao dia em que ele me começou a doer. Quando fui diagnosticada com fibromialgia, cujo principal sintoma é a dor crónica, encontrei na comida um refúgio. De um momento para o outro, comecei a comer desesperadamente, na esperança de, por um lado, castigar o meu corpo por ele me estar a falhar e, por outro lado, tentar acalmar a dor gigante que sentia (no corpo e na alma). A comida passou a ser o meu analgésico. Foram tempos nada bons. Num mês engordei 10 kg, o que só contribuiu para que me sentisse ainda pior…dorida, cansada e gorda. Foi aí que percebi que precisava de ajuda especializada, e foi essa ajuda que me salvou.
Hoje em dia já estou bem e equilibrada. Claro que ainda tenho recaídas e nos dias menos bons ainda sinto vontade de usar a comida como analgésico. Mas são apenas isso, dias menos bons, que são cada vez menos. Obrigada por me permitires partilhar esta parte da minha história sobre a qual nem sempre gosto de falar. E obrigada por seres uma inspiração.
Um grande beijinho,
Catarina
vânia duarte
Catarinaquerida Catarina obrigada eu por teres aberto o teu coração e partilhares a tua história. Fico muito feliz que tenhas conseguido encontrar o teu caminho. Não há mal em cairmos de vez em quando, acaba por fazer parte das aprendizagens que a vida nos traz. Tu tens de ter orgulho no teu percurso e em não te teres resignado. Um grande beijinho para ti
Sónia
Eu reconheço todos os sintomas. E odeio-me por n conseguir travar, por deixar ser mais forte que eu. Odeio-me por aquilo que me tornou, por estar no ponto em que estou: obesidade grau 1. Conseguiu sair deste ciclo vicioso sozinha?
vânia duarte
SóniaOlá Sónia, fico triste de a saber assim, infelizmente este é um caminho complicado de trilhar mas é possível a recuperação. Eu vivi 15 anos com compulsão alimentar, fiz muitas tentativas e tive muitos falhanços mas uma das coisas que digo sempre é que nunca desisti, mesmo quando achava que não ia conseseguir eu tentei uma e outra vez e um dia deu certo. Tive ajuda, nutricional e psicológica mas acredito que foi a minha força de vontade ao querer não desistir que me ajudou. Força.