Sofrer de ansiedade, não é palpável mas magoa muito
Hoje falo-te sobre sofrer de ansiedade e a dificuldade em falar sobre este problema. Afinal de contas, uma das coisas no qual sempre senti desconforto ao falar dos meus ataques de pânico era conseguir explicar porque é que eles aconteciam. Principalmente porque houve uma altura em que eu simplesmente não sabia o porquê de aquilo acontecer. E pior ainda eu não sabia que sofria de ataques de pânico.
Durante muito tempo eu achei que tinha um problema de coração. Um problema grave que me ia matar a qualquer momento. Sim é cru, é directo mas foi exactamente assim que as coisas foram. Durante muito tempo eu achava que tinha uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer momento no meu peito. E visitei mais vezes o hospital do que eu realmente gostaria com dores no peito insuportáveis, o braço esquerdo dormente e todo um corpo em total descontrolo.
Foram muitos meses assim. Até que depois de ter ido a um cardiologista e ter feito todos os exames possíveis a resposta final foi que eu sofria de transtorno de pânico. E se por um lado eu senti alívio ao perceber que não estava a morrer. Por outro e sendo-vos o mais sincera possível desejei que aquele não fosse o resultado.
Sinceramente acho que é muito mais fácil e até aceitável pela sociedade que tenhas um problema físico.
É muito mais fácil as pessoas entenderem que tens um problema de coração mesmo sendo jovem do que sofras de qualquer problema psicológico.
É verdade sim senhora que a ansiedade e a depressão são uma das doenças do século XXI. Mas também é verdade que são provavelmente das doenças menos entendidas pela maioria das pessoas porque lá está, não são doenças palpáveis. E muitas vezes durante algum tempo, não consegues explicar o porquê de estares a sofrer disto. Portanto acabas sempre por ser catalogada de maluquinha ou de quereres arranjar desculpas para faltar ao trabalho. E tu que sabes que não é nada disto, que vives presa no meio desta doença sentes-te muitas vezes sozinha. Porque não queres partilhar aquilo que realmente se passa contigo.
Ainda há muito preconceito sobre sofrer de ansiedade
Essa é que é a mais pura das verdades. Por mais modernaços que todos nós digamos ser, a maioria das pessoas não consegue entender o que uma depressão ou ataques de pânico te podem fazer na vida. O quanto te podem limitar e isolar. E o quanto te magoam, porque lá está a maioria das pessoas precisa de ver algo palpável para conseguir aceitar que isso é uma doença.
O problema é que todas as doenças de foro mental e psicológico
Têm uma fase em que efectivamente tu não consegues explicar o porquê de te sentires assim. Mas com o passar do tempo começam a afectar-te mesmo fisicamente. Seja no caso dos distúrbios alimentares em que passas da miúda com a mania das dietas para efectivamente doente. Ou no caso de uma depressão passas da maluquinha para a pessoa que teve de ser internada porque se tentou matar. Acham isto duro?
É porque o é. Estas doenças são efectivamente perigosas porque durante muito tempo não são palpáveis. E quando se tornam, muitas vezes ou já é tarde de mais ou o tratamento já vai ser muito mais longo.
Uma das coisas que mais me perguntavam era porque é que aquilo me acontecia
E quando eu dizia que não sabia as pessoas na sua boa vontade davam-me conselhos. De pensar em coisas boas da vida. Sair mais, ler mais ou distrair-me com um filme. Para muita gente não é fácil perceber como é que tu, não tens uma razão para o teu corpo, de um momento para o outro ficar totalmente descontrolado. O teu coração bater a 1000 e passares de um corpo quente a gelado em poucos segundos.
Óbvio que há uma razão para se sofrer de ansiedade. Óbvio que existe algo a nível psicológico que te está a causar estas reacções. Mas até eu começar a fazer psicoterapia e andar lá durante algum tempo não sabia efectivamente o porquê de tudo isto então sentia vergonha. sentia medo e vergonha de contar que estava a passar por isto. Sentia vergonha que as pessoas me olhassem de lado e achassem que estava a enlouquecer. Sentia acima de tudo que seria mais fácil se tivesse efectivamente uma doença palpável para poder explicar.
Sofrer de ansiedade, não é palpável mas acreditem no que vos digo, magoa muito.
Lidia, L Cake, www.lcake.pt
Vânia, já passei por tudo isso: depressão, ataques de pânico, doença (física E psicológica), muitas horas de psicologia. No meu caso, tinha noção do que havia causado a situação, mas não tinha noção do que tinha causado o que tinha causado a situação. Se é que isto faz sentido… mas somos uma cebolinha: temos muitas folhinhas sobrepostas, umas a tapar as outras. É difícil de lidar e é difícil de ultrapassar, mas é uma fantástica viagem de auto-conhecimento que é uma boa bagagem para guardar para a vida. Facilita. Simplifica. Relativiza. Permite o auto-perdão e a compreensão connosco mesmo. E precisamos disso. Não somos de ferro. Somos humanos e temos direito a conhecer-nos, a perdoar-nos e a ser felizes. Isso também implica aprender como o nosso corpo (físico) sintetiza as nossas emoções (psicológicas) e o que faz como elas. Quem não está em contacto com esta realidade pode não a valorizar (eu não o fazia) até não conseguir respirar quando as portas do metro se fecham (quando se andou de metro todos os dias nos 5 anos anteriores), mas é tão importante. E somos mais ricos por sabermos (mais) isso sobre nós. Um diamante tem muitas facetas e assim é o ser humano. 🙂 <3
lollytasteblogvania
Lidia, L Cake, www.lcake.pté tão isto Lidia e focaste um ponto importante que é: estas coisas podem acontecer a qualquer momento e com situações que antigamente era normais (exemplo do metro) e isto é o que torna mais dificil de explicar às pessoas como é que deixas de conseguir fazer algo que antigamente fazias com naturalidade. é importante procurar ajuda e aceitar acima de tudo que precisamos dela para entrarmos nessa viagem que auto conhecimento 🙂 um grande beijinho
Bruna Gandra
Identifiquei-me com cada palavra…
Fiz todos os exames possíveis, achei mesmo que tinha um problema no coração, as dores era insuportáveis e o meu coração estava sempre a bater a "mil" (sem razão aparente)
Quando tive o primeiro ataque de pânico achei mesmo que ia morrer ali… Nunca me senti tão mal e sem controlo na vida.
É realmente dificil explicar às pessoas o que é a ansiedade, na maioria das vezes obtenho respostas como "Eu também sou muito stressada/o…"
Enfim, resta-nos aprender a viver com isto e tentar ao máximo controlar os ataques de pânico.
Adorei o blog e já estou a seguir
Um beijinho,
Red Lips
lollytasteblogvania
Bruna GandraBruna obrigada pelo teu comentário. Tivemos exactamente os mesmos sintomas, deixa-me apenas dizer-te que não é preciso viver com isto e ninguem o merece porque há tratamento e é possível passar a ter uma vida mais tranquila acredita em mim. Não te habitues a viver assim ok? um grande beijinho
Mariana Morais
isso tem cura. EMDR – coisa que muitos psicólogos não sabem o que é. Infelizmente a psicologia está muito atrasada em Portugal – eu tive transtorno obsessivo (sim, tive) com ataques de panico sem saber a causa… e hoje em dia passaram cinco anos e já não tenho. Procura pelas clínicas que façam EMDR. Eu nao acreditava até ver acontecer…parecia magia 🙂 Vou seguir o teu blog, gostei muito 🙂
Deixo aqui o meu, pois não consigo comentar:
beingzenweb.wordpress.com
lollytasteblogvania
Mariana MoraisQuerida Mariana, muito obrigada pelo teu comentário 🙂 No meu caso eu consegui vencer os ataques de pânico, não tenho uma grande crise há já três anos, mas fui seguida por uma excelente profissional.
Já tive uma outra situação em que me senti mais nervosa mas consegui controlar, hoje em dia sinto-me bem. Este post foi mais uma partilha para mostrar que a ansiedade não é brincadeira e que é sim uma doença. Mas vou pesquisar a tua dica.
Um grande beijinhos
S*
Nem consigo imaginar a agonia… força!
Teresa Silva
Não consigo responder à menina que referiu o EDMR, mas queria alertar para uma coisa. Sofro de transtorno da ansiedade, de sindrome do panico e sindrome do pensamento acelerado e digo-vos, ja fiz de tudo. Inclusive EDMR . Não quero assustar ninguém, mas o momento em que pensei que ia morrer, que estava completamente louca e que só internada e fechada num quarto é que me toleravam, aconteceu depois de várias sessões de EDMR. Sei que tem que ser praticado por PROFISSIONAIS que saibam BEM o que estão a fazer, já puseram a mão à cabeça quando referi que foi a partir dai que piorei todos os sintomas. E outra coisa, nem toda a gente passa pelo mesmo processo de tratamento. Atenção a isso, não desejo a ninguém. Só coragem e boa luz no coração.
vânia duarte
Teresa SilvaOh Teresa fico triste de saber que teve uma má experiência com esta terapia 🙁 Mas como referiu acima nem toda a gente passa pelo mesmo processo de tratamento e é importante falar de todas as abordagens para que as pessoas possam cada vez mais ter acesso a toda a informação que existe sobre este assunto. Com a Teresa não correu bem, mas há muitas pessoas que corre, por isso há que acima de tudo informar o máximo possível e recorrer a ajuda profissional. um beijinho